Gasóleo mais caro em Angola deixa famílias insatisfeitas
25 de março de 2025O preço do gasóleo subiu em Angola, e o aumento tem gerado descontentamento em várias famílias, que temem os impactos económicos da medida. O analista teme que este aumento possa ser o estopim para uma onda de protestos no país.
O gerador continua a ser um instrumento essencial para fazendeiros e panificadores em Angola, sendo crucial para actividades como a rega das culturas e a produção de pão. Com o aumento do preço do gasóleo, o custo de produção também deverá subir, o que afectará directamente o preço dos alimentos.
Jeremias Caboco, professor no município dos Buengas, província do Uíge, com 15 anos de experiência, expressou a sua preocupação com o aumento do litro do gasóleo, que passou de 200 para 300 kwanzas (de 0,20 para 0,30 cêntimos de euro) desde segunda-feira.
"Nós teremos aqui muitas consequências. Infelizmente, não vai pesar para os dirigentes, vai pesar só para aqueles cidadãos que não têm a capacidade de muitas vezes questionar", afirmou.
O aumento do preço do gasóleo foi justificado pelo Governo angolano com o fim dos subsídios aos combustíveis, conforme exigido pelo Fundo Monetário Internacional.
Impactos económicos e risco de instabilidade social
Manuel Gonga, um funcionário público residente em Icolo e Bengo, considera o aumento de 100 kwanzas no preço do gasóleo um desrespeito ao povo angolano, embora não se surpreenda com a medida.
"O povo burro, o povo humilde, o povo especial angolano… Eu não sei quem anda a aconselhar este Executivo e o chefe deste Executivo. A gasolina também há de subir, há de chegar aos 500 kwanzas por litro. Estes senhores querem sufocar-nos, querem matar-nos. Este Executivo não tem pena desse povo", criticou.
Em declarações à DW, o economista Nataniel Fernandes afirmou que a estratégia do Governo angolano de retirada gradual dos subsídios aos combustíveis tem sido mal executada.
"Há fraca organização, uma certa incapacidade e falta de vontade", afirmou o economista, que prevê protestos no país.
"Os taxistas são uma das classes que têm realmente algum poder de reivindicação aqui no país e, de certa forma, acredito que vamos ter aqui algumas convulsões", alertou Fernandes.
O aumento do preço dos combustíveis junta-se a outros problemas sociais em Angola. Segundo Nataniel Fernandes, a situação económica do país já se encontra em uma crise profunda, o que poderia tornar-se um rastilho para uma grande instabilidade social.
"Angola começou a mergulhar numa pobreza e numa situação de fome que até hoje é visível. Quando circulamos pelas cidades, em Luanda, vemos pessoas a comer no lixo. Vemos pedintes quase a cada esquina. Nós vemos nos bairros as famílias extremamente necessitadas", relatou o economista.
Embora Angola seja o segundo maior produtor de petróleo da África subsariana, atrás da Nigéria, a riqueza gerada pelo petróleo ainda não se reflete na vida da maioria dos cidadãos.