Gabão elege próximo Presidente
12 de abril de 2025Cerca de 860.000 eleitores registados devem ir, este sábado, às urnas, no Gabão, para escolher o seu próximo Presidente. Estas eleições cruciais realizam-se 19 meses depois do país ter sido palco de um golpe de Estado, que destituiu o Presidente Ali Bongo, pondo fim a uma dinastia política que durou 56 anos.
As sondagens e vários analistas indicam que Brice Oligui Nguema, que liderou o golpe de agosto de 2023 e se declarou presidente de transição em setembro de 2023, deve conseguir uma vitória confortável.
O próprio diz estar confiante, prevendo uma "vitória histórica" , disse ele, esta semana, no comício de encerramento da sua campanha na capital Libreville.
Após o golpe, Oligui Nguema prometeu "devolver o poder aos civis” através de ‘eleições credíveis'. Apresentou-se como um líder que quer unificar os gaboneses, tendo a sua campanha presidencial tido como lema: "Construímos juntos”.
No entanto, Bilie By Nze, o seu principal opositor, apresenta-se como o candidato da "rutura completa". Numa entrevista recente à Associated Press, Bilie By Nze prometeu "uma rutura com o velho sistema e uma nova independência política, diplomática e económica”.
Bilie By Nze acusa Oligui Nguema, que liderou a Guarda Republicana durante o regime Bongo, de representar uma continuidade do antigo sistema.
"Os militares foram autorizados a candidatar-se”, disse Nze à agência noticiosa Reuters. "Temos de lutar para acabar com este sistema e mandar os militares de volta para os seus quartéis.”
Em novembro de 2024, o Gabão adotou uma nova Constituição, que foi aprovada por uma esmagadora maioria de 92% em referendo. A nova constituição fixa agora o mandato presidencial em sete anos, renovável uma vez. Além disso, um novo código eleitoral permite que os militares se candidatem a cargos públicos, permitindo a candidatura de Nguema.
Bilie-By-Nze também diz não esperar que as eleições deste sábado sejam justas ou transparentes.
Acusações que mereceram uma resposta, no início desta semana, de Laurence Ndong, porta-voz de Oligui Nguema.
"Pela primeira vez, o Gabão vai ter eleições livres e transparentes”, disse.
Eleitores votam
Dezenas de eleitores, de várias faixas etárias, esperavam, esta manhã, nas várias mesas de voto da capital, Libreville.
Em declarações à AP, enquanto esperava para votar no bairro operário de Damas, Jonas Obiang disse que iria votar em Bilie-By-Nze porque vê o golpe de 2023 como uma continuação das más práticas do regime anterior.
"O general Oligui Nguema dirigiu o país com as mesmas pessoas que o saquearam, os antigos membros do regime de Bongo. Eu não vou votar nele”, disse.
Uma opinião partilhada por Antoine Nkili, um desempregado de 27 anos com mestrado em Direito.
"A escolha é pessoal mas, para mim, os militares falharam. Eles prometeram reformar as instituições, mas não o fizeram. Em vez disso, enriqueceram”.
Já Jean Bie, de 57 anos, que trabalha no setor da construção, não concorda. Para ele, "em 19 meses, o general Oligui Nguéma concluiu vários projetos que o país esperava desde o antigo regime. Vou votar nele, na esperança de que ele faça mais nos próximos sete anos”, disse.
As urnas encerram às 17h00 (GMT), sendo os resultados provisórios esperados durante a noite.
Por que a eleição é importante?
As eleições presidenciais deste sábado são um teste crucial para a promessa do governo de transição liderado pelos militares de restaurar o regime civil. O golpe de Estado de agosto de 2023 no Gabão foi o último de uma série de golpes que ocorreram no continente entre agosto de 2020 e agosto de 2024. No entanto, o Gabão é o primeiro a tentar regressar a um regime constitucional.
Os analistas afirmam que outros países da região, como o Mali, o Níger e o Burkina Faso, que também estão sob regime militar, estarão a acompanhar de perto as eleições. Que mensagem poderá a eleição do Gabão enviar aos regimes de junta militar?
"Arranjem uma data e façam eleições", respondeu à DW Alex Vines, diretor do Programa para África da Chatham House.
Numa região onde a França está a perder aliados de longa data em muitas das suas antigas colónias, o Gabão destaca-se como um dos poucos países onde essa parceria não foi ameaçada. O país continua a ter mais de 300 tropas francesas no seu território.
Oligui Nguema não anunciou o fim da presença militar francesa, mas Bilie-By-Nze disse que "nenhum assunto está fora” na renegociação dos laços entre os dois países.