Palestina: Decisão de Macron gera reações diversas
25 de julho de 2025A França vai reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral da ONU, em setembro. O anúncio foi feito pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, esta quinta-feira (24.07), na rede social X.
"Fiel ao seu compromisso histórico com uma paz justa e duradoura no Médio Oriente, decidi que a França reconhecerá o Estado da Palestina", escreveu, sublinhando que a "necessidade urgente hoje é que a guerra em Gaza termine e que a população civil seja resgatada".
Emmanuel Macron já tinha manifestado, por diversas ocasiões, a vontade de reconhecer o Estado palestiniano. Mas a decisão francesa, esta quinta-feira anunciada, está a gerar reações diversas: uns aplaudem, outros condenam e há quem considere precipitada.
Reconhecimento é "um dos passos finais"
O Reino Unido e a Alemanha afirmam ser cedo. Londres considera que a prioridade é solucionar a grave crise humanitária na Faixa de Gaza, enquanto Berlim afasta essa possibilidade "no curto prazo".
Numa declaração, o Governo alemão salienta que "continua convencido de que só uma solução negociada de dois Estados trará paz e segurança duradouras para israelitas e palestinianos". Mas reitera a sua posição de que o reconhecimento do Estado palestiniano é "um dos passos finais" para uma solução de dois Estados, sublinhando que "a segurança de Israel é da maior importância para o Governo alemão".
Portugal também já reagiu ao anúncio francês. De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros "Portugal sempre esteve aberto ao reconhecimento" e que "continua em contacto com os seus parceiros". Paulo Rangel acrescenta que a decisão de França "não é novidade" e que a conferência da próxima semana sobre Israel e Palestina, que decorrerá nos Estado Unidos, será importante para a decisão do país.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, saudou o anúncio de Macron. "Celebro que a França se junte a Espanha e a outros países europeus no reconhecimento do Estado da Palestina. Juntos, devemos proteger aquilo que [Benjamin] Netanyahu está a tentar destruir", publicou na rede social X.
Decisão "recompensa o terror"
Israel e os Estados Unidos são os principais críticos da decisão. Para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a decisão francesa "recompensa o terror", referindo-se ao ataque do Hamas ao sul de Israel, a 7 de outubro de 2023.
"Sejamos claros: os palestinianos não procuram um Estado ao lado de Israel; procuram um Estado no lugar de Israel", disse Netanyahu.
Os Estados Unidos também rejeitam "firmemente" o plano francês, considerando-o "imprudente". "Isto é uma bofetada na cara das vítimas de 7 de outubro", considera o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
"Passo positivo"
Por seu lado, a Palestina saúda a decisão de Emmanuel Macron e o Hamas considera que se trata de um "passo positivo", apelando a outros países que sigam o exemplo – um cenário que, segundo a especialista em defesa, Amelie Ferey, pode mesmo acontecer.
Em declarações à Reuters, Amelie Ferey considera que a decisão de França, apesar de tardia, pode ser determinante: "em primeiro lugar, torna mais difícil para o governo israelita conseguir o Grande Israel e a anexação total da Palestina torna-a mais difícil". "Penso que é essa a ideia subjacente, especialmente se a França conseguir que outras potências ocidentais se juntem a nós. E também permite o estabelecimento de laços bilaterais", acrescenta.
Embora a Palestina seja já reconhecida como Estado soberano por mais de 140 países, França tornou-se o primeiro país do G7 e o primeiro membro do Conselho de Segurança da ONU a tomar a decisão.
"O Hamas não quer fazer um acordo"
Entretanto, o Presidente norte-americano disse, esta sexta-feira (25.07), que o movimento islamita palestiniano Hamas não quer um acordo. "O Hamas não quer realmente fazer um acordo. Penso que quer morrer. E isto é muito, muito grave", considera Donald Trump, em declarações aos jornalistas, pouco antes de partir para numa viagem à Escócia.
"Retiraram-se de Gaza, retiraram-se das negociações, e é uma pena", lamenta o Presidente dos Estados Unidos.
Sobre o reconhecimento de um Estado palestiniano, Trump desvaloriza as declarações do homólogo francês, Emmanuel Macron, dizendo que a posição da França "não tem muito peso".