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Fome aguda em Sofala: Crise alimentar afeta milhares

25 de março de 2025

A escassez de alimentos em Sofala atinge níveis alarmantes. Com mais de 600 mil pessoas afetadas pela seca e El Niño, a população recorre a alternativas extremas para garantir a sobrevivência.

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Secas em Sofala, Moçambique
A província de Sofala tem um total de 624 mil pessoas afetadas por uma situação de insegurança alimentarFoto: Arcénio Sebastião/DW

A província de Sofala, no centro de Moçambique, enfrenta uma crise alimentar sem precedentes, afetando cerca de 600 mil pessoas devido a uma grave escassez de alimentos que dura já três anos. O fenómeno, associado à queda irregular das chuvas e ao fenómeno El Niño, tem causado uma fraca produção agrícola, agravando ainda mais a situação.

Em várias zonas da província, a população recorre a alimentos improvisados, como farelos, capim e frutos silvestres, para sobreviver. Entre os produtos mais consumidos estão a melancia e a cana-doce, que ajudam a aliviar os efeitos da fome. Contudo, os habitantes relatam que a situação está a piorar, com a escassez de recursos e o aumento do custo de vida.

Paula Albino, residente do distrito de Caia, contou que tem procurado alternativas para alimentar a sua família, incluindo o uso de farelo de milho e de um tubérculo local denominado nhica, um fruto silvestre encontrado em áreas distantes. 

Alternativas para sobreviver

"É fome só, aqui está-se a morrer. As pessoas estão a comer farelo e o mesmo farelo agora já está caro", lamenta Paula, referindo que a busca por alimentos exige longas deslocações.

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Antonio Vernijo, por sua vez, ainda consegue algum dinheiro, mas afirma que não chega para nada. 

"Comemos à rasca aqui, quem consegue 50 meticais tem que comprar tudo com este valor, mas só chega para apenas um copito de farinha," relatou.

Em declarações à DW, o regulo Sakaducua explicou que o nhica é encontrado em áreas remotas, onde a população se vê obrigada a percorrer grandes distâncias. 

"O nhica é encontrado muito longe, muito longe. Para chegar onde ele se encontra, leva-se de três a quatro dias. Para um idoso conseguir ir e voltar, é impossível, pois muitos perdem a vida no caminho. Agora, o nhica tem uma época, mas, nesse período, ele não está disponível. O que fazemos é ir às moagens, mas o farelo que retiramos já não é o mesmo, pois não há mais venda para aqueles que precisam de alimentos para os animais. Preferimos vender o farelo para as pessoas, porque é assim que conseguimos alimentar as nossas famílias. Esta é a situação em que vivemos."

Resposta à crise

Os distritos de Buzi e Machanga também estão a enfrentar a mesma situação de escassez alimentar, com a seca cíclica a forçar a emigração da população em busca de melhores condições de vida.

Em resposta a esta grave crise, o Instituto Nacional de Gestão de Riscos e Desastres (INGD) está a oferecer formação às famílias camponesas, com o objetivo de melhorar as técnicas de cultivo de produtos alimentares mais resistentes à seca.

Aristides Armando, responsável pelo INGD, afirmou: 

"A província de Sofala tem um total de 624 mil pessoas afetadas por uma situação de insegurança alimentar, pois a situação do El Niño provocou escassez de chuvas e, por conseguinte, tivemos impacto na produção agrícola. Com esta atividade, foi acionado o plano de ações antecipadas, que é um instrumento que visa acelerar a forma preventiva para as ações emergentes relacionadas à resposta à seca."

Apesar dos esforços para minimizar a situação, a crise alimentar em Sofala continua a colocar em risco a vida de milhares de pessoas, especialmente idosos e crianças, que são as principais vítimas desta calamidade. 

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