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Fecho de sedes da RENAMO pode tornar-se problema "nacional"

11 de março de 2025

Delegações provinciais da RENAMO estão a ser forçadas a encerrar por um grupo de ex-guerrilheiros que contesta o líder Ossufo Momade. Analista alerta para o perigo desta situação, que pode alastrar-se por todo o país.

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 Ossufo Momade, líder da RENAMO
"Ossufo Momade já vendeu o país", acusa o desmobilizado Mateus FranciscoFoto: Nádia Issufo/DW

Desde a semana passada, há um movimento intenso de ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) a exigir o encerramento das delegações provinciais do partido. Isso já aconteceu nas províncias de Maputo, Nampula, Zambézia e, esta segunda-feira (10.03), também na cidade de Tete, no centro de Moçambique.

Mateus Francisco, um dos desmobilizados que protestou na semana passada, na Zambézia, acusa pessoalmente o líder da RENAMO, Ossufo Momade, de ser o responsável pela não pagamento dos valores monetários prometidos aos ex-guerrilheiros na sequência dos acordos de paz no país.

"Ossufo Momade já vendeu o país. O povo está a morrer, sem se alimentar. Ele só se sentou na cadeira a comer o nosso dinheiro. O que estamos a precisar é, a partir de hoje, que ele não seja mais o presidente da RENAMO. Nós é que vamos escolher quem será o próximo presidente da RENAMO, que vai chegar até à Ponta Vermelha."

Em Quelimane, na sexta-feira passada, as escaramuças protagonizadas pelos antigos guerrilheiros levaram ao encerramento de todos os compartimentos da delegação provincial. Dísticos com imagens de Ossufo Momade foram rasgados; capulanas e cartazes foram queimados pelos manifestantes.

Negociações sem êxito

Em exclusivo à DW, o delegado provincial do partido, Inácio Reis, diz que está a tentar negociar com os ex-guerrilheiros revoltosos, mas até agora sem êxito. "O encerramento daquela instituição não prejudica nem Ossufo Momade, nem me prejudica a mim. Eu não me quero confrontar com eles", sublinha.

Ossufo Momade: "A RENAMO é a segunda força no país"

Reis coloca-se do lado de Ossufo Momade e desmente as acusações dos ex-guerrilheiros, de que a liderança da RENAMO estaria a desviar fundos do processo de Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR). 

Ao mesmo tempo, o delegado provincial receia que todas as delegações políticas do país  sejam afetadas por este movimento de ex-guerrilheiros. "Isto aqui não nos leva a nenhum lado, quando na tentativa de querermos fazer aquilo que achamos que é uma solução - que seria Ossufo Momade deixar o poder - estamos a afundar mais o nosso partido. E a missão é essa, fechar todas as delegações ao nível nacional, dos distritos e das províncias e forçar Ossufo a deixar o cargo e a remarcar o conselho nacional", afirma.

Crise política profunda

Face a estes e outros desenvolvimentos – incluindo a vandalização de infraestruturas públicas – o analista político Lourindo Verde entende que o país está a mergulhar numa crise política profunda. Por isso, pede a intervenção do governo.

"Nós estamos num contexto de manifestações: o Presidente da República apontou três grupos inimigos de Moçambique: os terroristas, os Naparamas e os manifestantes comandados por Venâncio Mondlane. A emergência das manifestações dos ex-guerrilheiros da RENAMO é mais um grupo e talvez, desses todos, é o mais perigoso para a segurança e estabilidade do país. Se essa onda de manifestações continuar assim e não for controlada, podemos ter o pior caos", alerta.

"O apelo que faço é para que o Governo de Moçambique não olhe para o encerramento das sedes do partido como um problema da RENAMO apenas. Deve ser encarado como um problema de segurança pública", insiste Lourindo Verde, para quem este não seria só um problema da RENAMO, mas também nacional.

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Correspondente da DW Marcelino Mueia
Marcelino Mueia Correspondente da DW África em Quelimane
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