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Falta de combustível e comida encarece vida em Cabo Delgado

DW (Deutsche Welle)
11 de abril de 2025

Um mês após a passagem do ciclone Jude pelo norte e centro de Moçambique, a vida em Cabo Delgado continua em suspenso e cada vez mais cara. A escassez de combustível prolonga-se e o preço dos alimentos agrava-se.

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Em Pemba, falta combustível após manifestações violentas
Longas filas marcam presença nos postos de abastecimento de combustíveis em Pemba, devido às dificuldades no reabastecimentoFoto: Delfim Anacleto/DW

Há um mês, o norte e parte do centro de Moçambique foram fustigados pelo ciclone Jude, deixando um rasto de destruição, especialmente na província de Cabo Delgado.

A circulação rodoviária entre Cabo Delgado e Nampula - uma das principais rotas de abastecimento de bens e serviços - ficou interrompida devido à queda de pontes ao longo da Estrada Nacional Número 1.

O impacto desta interrupção está a ser profundamente sentido pela população e pelos empresários locais, que descrevem um quotidiano marcado pela escassez, pela especulação de preços e por enormes dificuldades logísticas.

Transportes em colapso

O setor dos transportes é um dos mais afetados. Uma crise de combustíveis prolonga-se há quatro semanas, e os operadores de transporte enfrentam sérias dificuldades para reabastecer nos terminais oceânicos.

A maior parte do combustível provinha do terminal de Nacala-Porto, agora inacessível por via terrestre.

Porto de Nacala
Operadores de transporte enfrentam sérias dificuldades para reabastecer nos terminais oceânicosFoto: DW/M. Sampaio

Cássimo Salimo, presidente da Associação Provincial de Transportadores Rodoviários de Cabo Delgado, revelou à DW que mais de metade dos transportadores estão com a atividade suspensa.

"Neste exato momento, a província de Cabo Delgado está a viver uma especulação de preços de produtos alimentares e no transporte, por causa da escassez de combustível. Todos os distritos pararam devido a problemas sérios de abastecimento", revelou o responsável.

Os poucos transportadores ainda em operação aumentaram as tarifas para fazer face à escassez e aos custos acrescidos. O presidente da Associação Provincial de Transportadores Rodoviários de Cabo Delgado questiona por que razão o porto de Pemba não está a ser utilizado como alternativa logística, sublinhando os prejuízos para o setor.

"O nosso Governo devia esclarecer por que não podemos usar o porto de Cabo Delgado", sugere Salimo, ao mesmo tempo que sublinha que "como transportadores, estamos a enfrentar transtornos no nosso trabalho do dia a dia e estamos a perder.”

Nova rota já em funcionamento

Em resposta à crise, o setor privado e o Governo iniciaram entendimentos para desviar otransporte de combustíveis via marítima para o porto de Pemba. Mamudo Irache, presidente do Conselho Empresarial da província, afirma que uma nova rota já está em funcionamento.

"Há um cargueiro que sai de Nacala-Porto direto a Pemba, e é esse cargueiro que garante o abastecimento de combustíveis na praça. Foi a alternativa que encontrámos", revelou.

Porto de Pemba, em Cabo Delgado
Conselho Empresarial garante que navios com combustível partem de Nacala rumo ao porto de PembaFoto: DW

Apesar da medida, longas filas continuam a formar-se nos postos de abastecimento, enquanto os camionistas responsáveis pelo fornecimento interno da província enfrentam atrasos e dificuldades.

O presidente do Conselho Empresarial reforça a necessidade de ampliar as soluções logísticas. "Em relação a produtos alimentares, por exemplo, porque não se poderia tirar de Nacala de navio ao porto de Pemba?", questiona Mamudo Irache, apontando conversações com o Governo "para explorar essa possibilidade e o uso do porto deMocímboa da Praia."

Sistema de saúde em ruptura

As consequências do ciclone Jude não se limitam aos transportes e ao abastecimento. O sistema de saúde também está sob forte pressão. No Hospital Provincial de Pemba, o maior da proncia de Cabo Delgado, a transferência de doentes para o Hospital Central de Nampula tornou-se um verdadeiro desafio logístico.

Estevão Matsinhe, diretor clínico da unidade, descreve que os pacientes são transportados até ao local de corte da estrada "onde devem ser levados de canoa até à outra margem. Daí, seguem em ambulância até ao Hospital Central de Nampula."

Enquanto se aguardam soluções, a população de Cabo Delgado continua a viver num estado de incerteza e resistência, enfrentando diariamente as consequências de uma calamidade natural cujos efeitos se prolongam muito para além da tempestade.