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PolíticaUganda

Uganda ameaça responder "sem piedade" à violência eleitoral

9 de agosto de 2025

Tornou-se comum o exército ugandês ameaçar interromper eventos políticos da oposição com violência e até mesmo disparar munições reais contra manifestantes.

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Felix Kulayigye, porta-voz do exército do Uganda, numa foto de maio de 2012
Felix Kulayigye voltou a fazer ameaças dirigidas aos opositores ugandesesFoto: MICHELE SIBILONI/AFP

O porta-voz do exército do Uganda, Felix Kulayigye, alertou que as forças de segurança tratarão "sem piedade" aqueles que usarem a violência para interromper as próximas eleições gerais, previstas para janeiro.

"Não ousem usar a violência, porque iremos tratá-los sem piedade. Não vou mentir sobre isso", disse Kulayigye numa entrevista transmitida ontem à noite no canal de televisão NTV Uganda, citada pela agência Efe.

O exército ugandês já usou essa ameaça no passado para interromper eventos políticos da oposição com violência e até mesmo disparar munições reais contra manifestantes. Ainda assim, o porta-voz militar encorajou todos os ugandeses a votar e garantiu que os soldados não irão agredir os eleitores "Usar soldados para agredir simpatizantes de algum partido político é ilegal e não será tolerado", afirmou.

Embora durante a sua intervenção televisiva Kulayigye tenha reconhecido que esse tipo de altercação entre eleitores e militares já ocorreu, garantiu que os soldados envolvidos foram detidos e investigados.

Por sua vez, a advogada defensora dos direitos humanos e presidente da Plataforma de Observadores Eleitorais do Leste e do Corno de África (EHORN, em inglês), Sarah Bireete, expressou a sua preocupação com este tipo de comentários.

Para ela, um dos pontos "críticos" que devem ser abordados para garantir eleições livres e transparentes é o "papel das forças de segurança". "Vimos casos em que o exército atacou e prendeu jornalistas e impediu o acesso de observadores eleitorais devidamente credenciados, incluindo membros da Comissão de Direitos Humanos do Uganda, e outros funcionários eleitorais", afirmou numa entrevista à televisão ugandesa NBS.

"É fundamental que, nestas eleições, a polícia participe apenas para garantir a segurança. A Constituição estabelece que o exército só deve intervir em processos civis em situações de emergência ou desastre, e as eleições não são nenhum dos dois casos mencionados", acrescentou.

O presidente do Uganda, Yoweri Museveni, de 80 anos e no poder desde 1986, confirmou que irá concorrer à reeleição nas próximas eleições.

O seu principal rival nas urnas será o cantor e líder da oposição Robert Kyagulanyi, de 43 anos, popularmente conhecido pelo seu nome artístico, Bobi Wine, que também confirmou a sua intenção de se candidatar às presidenciais.

Kyagulanyi já concorreu contra Museveni nas eleições de janeiro de 2021, nas quais o presidente foi reeleito após um período eleitoral marcado pelo desaparecimento de centenas de simpatizantes da oposição, protestos dispersados com munições reais e pelo menos 54 manifestantes mortos.

Nessas eleições, Museveni obteve 58,6% dos votos, enquanto o cantor ficou em segundo lugar com 35%.

O líder da oposição, que já foi detido várias vezes e cujos comícios costumam ser dispersos pelas forças de segurança com gás lacrimogéneo e até munições reais, descreveu essas eleições como "as mais fraudulentas da história do Uganda".

Bobi Wine sonha com a liberdade no Uganda

Lusa Agência de notícias
EFE Agência de notícias