Ex-guerrilheiros fazem ultimato à liderança da RENAMO
23 de junho de 2025Ex-guerrilheiros da RENAMO dão um ultimato à cúpula do partido para realizar o Conselho Nacional. Os descontentes da segunda maior força da oposição exigem reformas dos estatutos da Resistência Nacional Moçambicana, que deveriam constar da agenda do Conselho. Acusam ainda o líder do partido de nepotismo ao colocar familiares em cargos decisórios da formação.
Caso Ossufo Momade e a sua equipa não respondam às reivindicações, os ex-guerrilheiros ameaçam voltar a tomar as delegações da RENAMO e até mesmo a sede nacional. Edgar Silva, que falou hoje em conferência de imprensa, em nome dos descontentes, contou à DW a mensagem que passou ao público.
DW África: Qual a principal exigência dos ex-combatentes da RENAMO, destacada na conferência de hoje?
Edgar Silva (ES): Fizemos apenas um ponto de agenda, sobre a "liberalização" das nossas delegações provinciais, para que as atividades possam prosseguir no sentido de, em 20 dias, a estrutura máxima do partido encontrar datas para o Conselho Nacional alargado aos combatentes e outros membros daRENAMO.
Já que estamos neste braço de ferro, e para que o partido não possa dizer que não pode marcar o Conselho porque as delegações estão fechadas, vamos abrir mão [do fecho das sedes] e deixar que o partido realize o seu trabalho no sentido de encontrarmos datas para a realização do Conselho Nacional.
DW África: Caso a vossa exigência não seja atendida, qual será a vossa próxima arma de pressão contra a liderança da RENAMO?
ES: Vamos voltar às posições iniciais e, ainda este ano, fechar novamente as delegações provinciais e voltar a tomar a sede nacional. Estamos capazes de fazer isso, estamos aqui em Maputo, não estamos muito longe.
DW África: Mesmo sob o risco de serem reprimidos pela polícia?
ES: Não gostaríamos de entrar em detalhes sobre o que a polícia fez. Foi uma flagrante violação dos direitos de manifestação e reunião. Achamos que temos o direito de opinar sobre o andamento do trabalho do partido. Se o partido não funciona, temos de criticar. Significa que não está a cumprir o seu papel. É um direito que temos e estamos vinculados a princípios fundamentais. Acreditamos que essa situação não é desejável.
DW África: Pretendem usar algum tipo de pressão para voltar a encerrar as delegações? Algum tipo de arma?
ES: Armas? Não será necessário. Vamos apenas voltar a exigir que se afastem. Se não estão dispostos a trabalhar com as bases, então [saiam]. Não acreditamos que todos estejam contra nós. Temos o povo do nosso lado, temos os membros das bases, que estão insatisfeitos com o andamento do partido. O partido está a regredir, está a afundar. Tem de haver alguém que apele a consciência daqueles que pretendem afundar o partido. Estamos a tentar unir todas as vozes para podermos resolver esta situação.
DW África: Os ex-guerrilheiros descontentes exigem a reformulação dos estatutos da RENAMO no Conselho Nacional. Quais são os pontos que pretendem ver mudados?
ES: Não indo muito ao detalhe, é imperativo que os órgãos do partido sejam eleitos e não indicados, como tem sido prática. Os delegados provinciais e os delegados distritais devem ser eleitos pelas bases e não indicados por apenas um indivíduo. O que está a acontecer com os nossos estatutos é que foram alterados para permitir a indicação - os delegados distritais são indicados pela figura do presidente. Tem de se ter alguém familiar ao presidente para ser delegado, não obedecendo às bases do partido? Não pode ser assim.
DW África: Quantos familiares estão na cúpula?
ES: É difícil dizer. No Conselho Nacional tem parentes próximos, na Comissão Política também, e nas assembleias provinciais tem alguns. Tem muita gente.