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EUA-Ucrânia: O que se sabe sobre o acordo de minerais

AFP | tm
1 de maio de 2025

EUA e Ucrânia firmaram um novo acordo de cooperação mineral que prevê investimentos americanos em terras raras e outros recursos naturais ucranianos. Zelensky saudou o acordo como 'verdadeiramente igual'.

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Assinatura do contrato por Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, e Julia Svyrydenko, vice-Primeira-Ministra
Assinatura do contrato por Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, e Julia Svyrydenko, vice-Primeira-MinistraFoto: U.S. Department of the Treasury/REUTERS

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky saudou na quinta-feira um acordo mineral que Kyiv assinou com Washington, dizendo que o acordo reformulado era "verdadeiramente igual". "O acordo mudou significativamente" durante as negociações, disse em seu pronunciamento diário. "Agora é um acordo verdadeiramente igual que cria uma oportunidade para investimentos bastante significativos na Ucrânia."

Também o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiga, considerou um "marco importante" o novo acordo mineral, ressaltando seu papel no fortalecimento da parceria estratégica. A declaração ocorreu após informar a alta representante da União Europeia, Kaja Kallas, sobre a assinatura do acordo.

"É um marco importante para a parceria estratégica entre Ucrânia e EUA,  que visa fortalecer a economia e a segurança da Ucrânia”, escreveu o chanceler ucraniano na rede social X, logo após a conversa com Kallas.

O acordo prevê investimentos dos Estados Unidos em minerais estratégicos, incluindo terras raras, em território ucraniano. Ele surge em um momento em que Washington busca reduzir a ajuda militar direta a Kiev, em meio à prolongada guerra contra a Rússia.

Políticos norte-americanos e ucranianos durante a assinatura do acordo que dará aos Estados Unidos acesso preferencial a novos contratos de minerais ucranianos
Políticos norte-americanos e ucranianos durante a assinatura do acordo que dará aos Estados Unidos acesso preferencial a novos contratos de minerais ucranianosFoto: U.S. Department of the Treasury/REUTERS

Atraso

A negociação do pacto foi marcada por semanas de atraso, após divergências entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.O texto final não inclui garantias de segurança explícitas à Ucrânia — um dos principais pontos exigidos por Kiev.

Segundo fontes próximas à negociação, Trump teria exigido compensações financeiras pela ajuda americana concedida sob a administração de Joe Biden desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.

De acordo com o Instituto Kiel, da Alemanha, Trump teria solicitado cerca de US$ 500 bilhões — valor quatro vezes superior ao total já enviado pelos EUA à Ucrânia, estimado em US$ 120 bilhões. Zelensky, por sua vez, rejeitou a proposta, afirmando que não aceitaria um acordo que "dez gerações” de ucranianos teriam de pagar.

Sem o respaldo de garantias de segurança mais robustas, a Ucrânia decidiu aceitar o acordo como forma de garantir investimentos americanos de longo prazo. Embora Trump tenha recusado a adesão ucraniana à NATO, ele declarou que uma presença americana no país poderia beneficiar Kiev.

O pacto estabelece a criação de um Fundo Conjunto de Investimento para Reconstrução, com direitos de voto iguais entre Ucrânia e EUA. O acordo cobre 57 tipos de recursos, incluindo petróleo e gás. Todos os lucros gerados serão reinvestidos exclusivamente na Ucrânia. Segundo o governo ucraniano, o país não será obrigado a reembolsar os bilhões já recebidos dos EUA desde o início do conflito.

Sistemas de armas quem têm ajudado a repelir as forças russas no sul e leste ucraniano
Sistemas de armas quem têm ajudado a repelir as forças russas no sul e leste ucranianoFoto: Armed Forces of Ukraine/Cover Images/IMAGO

Ajuda militar

O fundo também permitirá que futuras ajudas militares sejam contabilizadas como contribuições americanas ao investimento conjunto. A Ucrânia manterá controle total sobre seu subsolo, infraestrutura e recursos naturais.

Nos primeiros dez anos, o fundo financiará exclusivamente projetos voltados a mineração, petróleo, gás, infraestrutura e processamento em território ucraniano. Passado esse período, os lucros poderão ser distribuídos entre os dois países, conforme comunicado de Kiev. A Ucrânia também afirma que o acordo não afetará sua candidatura à União Europeia.

Estudos indicam que a Ucrânia possui cerca de 5% dos recursos minerais e de terras raras do mundo, embora grande parte ainda não tenha sido explorada. Algumas dessas áreas, inclusive, estão atualmente sob controle das forças russas.

O país também detém aproximadamente 20% da grafite global — essencial para a fabricação de baterias elétricas — além de ser um dos maiores produtores de manganês e titânio. Segundo o Gabinete de Investigação Geológica e Mineira da França, a Ucrânia possui ainda um dos maiores depósitos de lítio da Europa, ainda inexplorado.

A "lista de desejos" de Zelensky

Metais raros

Kiev identificou seis depósitos com potencial de extração de metais raros. Um deles, o de Novopoltavske, é descrito pelo governo como um dos maiores do mundo, com um custo estimado de US$ 300 milhões para iniciar sua exploração.

Apesar de reiterar que qualquer acordo precisaria incluir garantias de segurança robustas e duradouras contra futuras agressões russas, o documento assinado com os EUA não apresenta compromissos específicos nesse sentido. O texto limita-se a declarar que os EUA "apoiam os esforços da Ucrânia para obter as garantias de segurança necessárias para construir uma paz duradoura”.

A linguagem do Departamento do Tesouro dos EUA, no entanto, chamou atenção por se referir à "invasão em grande escala” da Rússia, contrastando com a retórica habitual da administração Trump, que costuma tratar o conflito como uma disputa de responsabilidade compartilhada.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou à imprensa norte-americana que o acordo representa uma oportunidade para os Estados Unidos receberem uma "compensação" pelo apoio militar e financeiro à Ucrânia durante a guerra. "É um sinal para a liderança russa", declarou.

AFP Agência de notícias