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ConflitosRepública Democrática do Congo

EUA mediam acordo de paz entre RDC e Ruanda

gcs | com agências
27 de junho de 2025

República Democrática do Congo e Ruanda selam histórico acordo de paz em Washington. Trump aplaude iniciativa que pode mudar décadas de guerra e facilitar acesso a minérios estratégicos.

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Acordo de paz entre a República Democrática do Congo e o Ruanda foi assinado esta tarde, em Washington, com mediação dos Estados Unidos.Foto: Mandel Ngan/AFP/Getty Images

A República Democrática do Congo e o Ruanda assinaram hoje um acordo de paz. O acordo foi rubricado em Washington. O Presidente norte-americano diz que este é um "grande dia para o mundo" inteiro.

O documento foi assinado esta tarde (27.06), em Washington, pelos chefes da diplomacia da República Democrática do Congo e do Ruanda.

Kigali compromete-se a suspender as "medidas defensivas" no país vizinho, o que é interpretado como o fim do apoio aos rebeldes na RDC.

Os Estados Unidos, que mediaram ao acordo, referem que este é um momento histórico "após 30 anos de guerra".

Desde a década de 1990 que o leste da República Democrática do Congo tem sido palco de conflitos envolvendo grupos armados, incluindo o Movimento 23 de Março (M23), que nos últimos meses tomou vastos territórios na região, alegadamente com o apoio do Ruanda.

Thérèse Kayikwamba Wagner, ministra congolesa dos Negócios Estrangeiros, durante acordo de paz
A ministra congolesa dos Negócios Estrangeiros, Thérèse Kayikwamba Wagner, durante a assinatura do acordo, que apelou à coragem para implementar os compromissos assumidos.Foto: Mandel Ngan/AFP/Getty Images

Olhando para o homólogo ruandês do outro lado da mesa, a ministra congolesa dos Negócios Estrangeiros, Thérèse Kayikwamba Wagner, disse que este novo capítulo exigirá "não só compromissos, como também a coragem de os implementar".

"Ao assinarmos este acordo reafirmamos uma verdade muito simples: A paz é uma escolha, mas também a responsabilidade de respeitar a lei internacional, respeitar os direitos humanos e a soberania dos Estados", afirmou Thérèse Kayikwamba Wagner.

Olivier Nduhungirehe, o chefe da diplomacia ruandesa, reconheceu que o caminho pela frente não será fácil.

"Mas com o apoio contínuo dos EUA e de outros parceiros, acreditamos ter alcançado um ponto de viragem", reconheceu Olivier Nduhungirehe.

Olivier Nduhungirehe, chefe da diplomacia ruandesa, durante acordo de paz
O chefe da diplomacia ruandesa, Olivier Nduhungirehe, reconheceu a dificuldade do processo, mas destacou o apoio internacional como ponto de viragem.Foto: Mandel Ngan/AFP/Getty Images

Minérios em jogo

Este acordo entre a RDC e o Ruanda segue-se à mediação de Angola e do Qatar.

O documento assinado em Washington prevê o respeito pela integridade territorial, a proibição de hostilidades, e a retirada e desarmamento de grupos armados não estatais, segundo avançou o Departamento de Estado norte-americano. 

A RDC e o Ruanda concordaram em criar um mecanismo conjunto de coordenação de segurança no espaço de 30 dias.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, congratulou-se com a assinatura, admitindo que a diplomacia africana não é bem "a sua praia".

"Estou um pouco fora da minha zona de conforto, mas sei pelo menos uma coisa — eles estavam em guerra há muitos anos; é uma das piores guerras jamais vistas", disse Donald Trump.

Os Estados Unidos também retiram vantagens. O acordo deverá facilitar o acesso de empresas norte-americanas a minérios da região, como o cobalto — matérias-primas fundamentais para produzir tecnologia.

"Conseguimos reuni-los e vender a ideia. E não só — assegurámos para os Estados Unidos direitos para exploração de minerais no Congo. Isso faz parte do acordo. Veja, esta é uma região muito difícil do mundo. Eles acabaram de me dizer que nunca imaginaram que viriam à Casa Branca, e estão muito honrados. E vamos oferecer-lhes uma grande receção", declarou Donald Trump.

M23 ausente da assinatura

Quem não assinou o acordo foram os rebeldes do M23, embora tenham estado envolvidos nas negociações de paz. No passado, o grupo disse que só baixaria as armas se o Governo congolês reconhecesse as suas reivindicações, incluindo maior representatividade nas estruturas estatais.

Um rascunho do acordo, citado pela imprensa internacional antes da assinatura em Washington, apontava para aparticipação do M23 num diálogo nacional "em igualdade de condições com outros grupos armados não estatais da RDC".

Estima-se que o conflito no leste da RDC provocou a morte de mais três mil pessoas. A região enfrenta uma das maiores crises humanitárias do mundo — sete milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas.

À lupa: A teia de interesses no conflito na RDC