EUA ajustam estratégia militar para África
10 de junho de 2025O continente africano deverá assumir uma maior responsabilidade no que toca aos seus próprios desafios de segurança. A comunicação foi feita, recentemente, por Michael Langley, líder do Comando Militar dos Estados Unidos em África (AFRICOM), e surge num momento em que os Estados Unidos estão a repensar a sua estratégia militar em África.
Este ajuste, que deverá estar em linha com a mudança estratégica da administração Trump, que tem como prioridade a segurança interna, prevê a redução da presença militar dos EUA no exterior, incluindo em África. Mas o que pode significar esta mudança para o continente?
Relevância global de África
O continente africano tem um papel estratégico importante, tanto para a Europa, como para os Estados Unidos, diz à DW Adib Saani, analista de política externa e segurança.
"África é um parceiro estratégico com uma população jovem e em crescimento - que deverá duplicar até 2045, de acordo com o African Economic Outlook", refere Saani.
Além disso, "o continente é rico em recursos minerais e possui reservas estratégicas, como as de urânio, de que, tanto os países ocidentais, como os orientais, dependem fortemente".
África também abriga 11 das 20 economias com mais rápido crescimento do mundo em 2024.
"O envolvimento dos EUA e outros países com África acontece não apenas por boa vontade, mas porque esses recursos são vitais para o funcionamento das indústrias em todo o mundo", lembra Saani, que acrescenta que "isso torna a relação mutuamente benéfica - todos ganham, tanto África como o resto do mundo".
No entanto, a nova estratégia de defesa da administração Trump desviou o foco da proteção dos EUA contra ameaças provenientes do exterior, incluindo o combate a organizações terroristas como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, que expandiram a sua presença em África.
"Partilhar o fardo" da segurança
No passado, os esforços militares dos EUA em África combinavam defesa, diplomacia e desenvolvimento.
"Os Estados Unidos têm sido um parceiro próximo no combate ao extremismo violento, especialmente na África Oriental e Ocidental. Temos contado muito com a logística, o treino e a partilha de informações dos EUA para lidar com essas ameaças", explica o mesmo analista, que nota também que, no que toca aos projetos sociais, os EUA, através da USAID e de outros programas, "ajudaram a tirar muitas pessoas da pobreza".
No entanto, e de acordo com o líder do Comando Militar dos Estados Unidos em África, as prioridades militares do seu país estão agora concentradas na proteção da pátria. Por isso, Michael Langley encorajou a "partilha de encargos" com os parceiros africanos.
Segundo Langley, o objetivo é que haja capacidade militar local para levar a cabo operações independentes e reduzir a dependência das forças norte-americanas.
Quais as consequências?
O analista Adib Saani entende que a redução da presença dos EUA no continente poderá deixar um vazio de poder e, consequentemente, ter um impacto negativo no trabalho que foi feito nos últimos anos no combate ao terrorismo no continente.
"Se os EUA retirarem o seu apoio, isso vai afetar-nos duramente. A ausência de uma grande potência a apoiar a nossa luta, pode encorajar os grupos terroristas a realizar ataques mais letais. Isso também prejudicaria o ânimo dos nossos soldados que enfrentam essas ameaças diariamente e colocaria uma pressão económica significativa sobre os países afetados", diz.
O AFRICOM conta atualmente com cerca de 6.500 militares em toda a África e investiu centenas de milhões de dólares em assistência à segurança. Saani teme as consequências que virão com o fim dos apoios.
"Será difícil em termos de logística e tecnologia - ainda não chegámos lá. A segurança é uma responsabilidade compartilhada e funciona melhor quando envolve vários atores. Na minha opinião, África não consegue fazer isso sozinha", afirma.
Rússia e China entram em cena
Para colmatar esta ausência, dizem os especialistas, os países africanos precisarão de procurar outros aliados - novos e antigos.
A China já lançou extensos programas de treinamento militar para as forças africanas, replicando aspetos do modelo militar norte-americano. Ao mesmo tempo, grupos mercenários russos estão a estabelecer-se como parceiros-chave de segurançaem várias regiões do continente.