Empresários de Palma excluídos dos benefícios do gás natural
5 de agosto de 2025A TotalEnergies, líder do consórcio da Área 1, prevê retomar já este mês a produção e exportação de Gás Natural Liquefeito (GNL), em Afungi. O megaprojeto está suspenso desde 2021 devido aos ataques terroristas na província de Cabo Delgado.
Mas os empresários de Palma estão preocupados, já que o acesso ao megaprojeto será possível apenas por via aérea e marítima. A ligação terrestre está descartada por motivos de segurança.
Ema Salimo, uma empresária do ramo de catering e transporte baseada na sede distrital de Palma, diz que os problemas nos acessos prejudicam as empresas locais.
"Essa história é de lamentar, porque estamos totalmente excluídos do projeto. Não temos acesso. Um portão daqueles, em que entras com scanner... Não tens nenhum e-mail disponível para concorrer, não tens nada aqui fora em Palma," ralata.
Ema Salimo conta que investiu em viaturas com a expetativa de fechar contratos com a multinacional TotalEnergies:
"Comprei carrinhas. No fim, mandaram-me passear porque dizem que são muito caras," descreve a empresária.
Sem resposta
Ema Salimo não está sozinha. Serage Inchamo Ali, outro empresário que representa um grupo com mais de 20 empresas locais, afirma que até pequenos contratos foram descartados.
"A empresa-mãe obrigou que aqueles projetos saíssem fora para poder se fechar lá dentro. Significa que, na vila, não há nenhum desenvolvimento," critica.
Segundo Serage Inchamo Ali, as promessas feitas durante a fase de remobilização, após os ataques armados de 2021 que levaram à suspensão do projeto na Área 1 da Bacia do Rovuma, não saíram do papel.
"Disseram-nos que íamos voltar para trabalhar junto com a Total, mas não é o que está a acontecer agora. Escrevemos, mandámos para o Governo distrital. Não tivemos qualquer resposta," lamenta o porta-voz do grupo empresarial local.
Exigências "inalcançáveis"
Essa sensação de exclusão não é recente. De acordo com Vasco Achá, académico baseado em Cabo Delgado, a marginalização dos empresários locais acompanha o projeto desde os primeiros anos, com exigências técnicas e burocráticas muitas vezes "inalcançáveis".
"Excluindo os empresários locais, o risco é o descontentamento. É também um risco social, digamos, sob o ponto de vista de exclusão social. Isto marginaliza e cria aqueles males sociais como desemprego, ladroagem, sabotagem," explica.
O académico reconhece progressos, como o surgimento de empresas locais legalizadas e com certificações adequadas. Ainda assim, defende que os empreendedores locais devem ser tratados com mais atenção, sobretudo os que permaneceram ativos:
"Eu, pessoalmente, sou a favor do empresariado local. Eles merecem um tratamento especial porque, de facto, fizeram de tudo em termos de investimento, em termos de qualificação. Em Palma, encontramos uma série de empresas nacionais já qualificadas a nível nacional, legais e registadas, o que não havia há cerca de dez, cinco anos atrás. Então houve um investimento, houve um esforço," defende Achá.
O académico diz que estes empresários "merecem uma palavra neste processo" e sugere que abordem o Governo moçambicano e a própria companhia.
Do lado empresarial, o apelo é claro: Querem inclusão efetiva e respeito pelas comunidades anfitriãs.
Em recente entrevista à agência noticiosa Lusa, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, disse não acreditar na possibilidade de os empresários locais ficarem de fora.
"Nós temos a certeza que a Total não vai se fechar", afirmou, acrescentando: "Estamos em crer que alguma coisa pode ter havido em termos de comunicação, de um entendimento na comunicação, mas temos a fé que pela parte Total não é o querer se fechar, como possa ter sido entendido".