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PolíticaAlemanha

Eleições na Alemanha: Como a política externa deverá mudar?

Jens Thurau
23 de fevereiro de 2025

O novo governo alemão precisará estabelecer novos focos na política externa. Longe dos EUA e em direção à própria defesa.

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O novo governo alemão será confrontado com enormes desafios na política externa após as novas eleições. Fala-se de uma "mudança de era"
O novo governo alemão será confrontado com enormes desafios na política externa após as novas eleições. Fala-se de uma "mudança de era"Foto: Jörg Carstensen/dpa/picture alliance

O novo governo alemão será - isso é o que se pode dizer - confrontado com enormes desafios na política externa após as novas eleições. Fala-se de uma mudança de era, de uma reorientação em muitos, em quase todos os campos. Ou, dito de outra forma: a despedida definitiva do papel confortável de um país economicamente potente, mas com uma geopolítica hesitante.

Durante longas décadas após a Segunda Guerra Mundial, os ministros de Negócios Estrangeiros da Alemanha podiam contar com o fato de exercer um cargo atraente: firmemente ancorado na ligação com o Ocidente, o país se desenvolveu como defensor do multilateralismo e defensor da democracia e do Estado de direito. As decisões eram tomadas em estreita colaboração com os países aliados do Ocidente, e os Estados Unidos eram responsáveis pela segurança do país - mas isso parece mudar.

EUA não garantem mais segurança

Na Conferência de Segurança de Munique (MSC), o novo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, anunciou que a Europa precisa arcar com os seus próprios custos de defesa e "assumir a responsabilidade". O candidato à presidente da União CDU/CSU, Friedrich Merz, se mostrou surpreso, conforme revelou em entrevista à DW.

"Estamos diante de uma data histórica: as garantias de segurança dos Estados Unidos estão sendo questionadas e os norte-americanos estão questionam as instituições democráticas", disse. E tudo isso em um ritmo acelerado.

O especialista em política externa da bancada do CDU no Bundestag (Parlamento alemão), Roderich Kiesewetter, vê o país em um ponto de inflexão. A República Federal alemã deve deixar claro que sua estrutura democrática e de Estado de direito está ser, cada vez, mais ameaçada. A China, por exemplo, faz tudo para expandir sua influência e aumentar a dependência de estados democráticos como a Alemanha.

"A China, por exemplo, faz tudo para expandir sua influência e aumentar a dependência de estados democráticos como a Alemanha", diz o analista Kiesewtter à DW
"A China, por exemplo, faz tudo para expandir sua influência e aumentar a dependência de estados democráticos como a Alemanha", diz o analista Kiesewtter à DWFoto: Dmitri Lovetsky/AP/picture alliance

Ingenuidade em relação à China

O analista Kiesewetter defendeu, em entrevista à DW, uma política que coloque os próprios interesses estatais e econômicos alemães no centro: "Os impactos econômicos serão massivos, e a NATO perderá sua capacidade de dissuasão. Para alcançar isso, no entanto, é necessária uma reorientação estratégica clara, além de uma política externa e de segurança. O pensamento antigo de apaziguamento e a ingenuidade em relação à China não se encaixam nisso, mas são contraproducentes", disse.

Tropas de paz alemãs na Ucrânia?

Também continua dominante o tema da relação política com a Ucrânia, e nada parece permanecer como antes. Após a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, na primavera de 2022, a Alemanha foi o maior apoiador da Ucrânia, após os Estados Unidos - tanto militarmente, quanto na recepção de refugiados. Agora, um acordo sobre o fim da guerra parece ser negociado principalmente pelos EUA e pela Rússia. A Alemanha e outros países europeus deverão se tornar, a partir de agora, responsáveis pela garantia de tal acordo com suas próprias tropas. É que o presidente dos EUA, Donald Trump, já disse que não quer mais arcar com isso.

Se isso é viável para a população alemã, ainda é incerto. Em uma pesquisa do instituto de pesquisa de opinião Forsa, 49% se manifestaram a favor de tal missão, enquanto 44% eram contra. Ao atual chanceler Olaf Scholz (SPD) resta apenas se referir a um antigo ponto de vista, mas que dificilmente pode ser implementado. Ele disse em entrevista aos média alemães: "Aplaudimos que haja conversas sobre a paz, mas para nós está claro: isso não significa que possa haver uma paz imposta e que a Ucrânia tenha que aceitar o que lhe for apresentado", afirmou.

O ministro Federal da Defesa alemão, Pistorius, em frente a um sistema de defesa aérea Patriot
O ministro Federal da Defesa alemão, Pistorius, em frente a um sistema de defesa aérea Patriot Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Forças armadas alemãs reforçadas

De qualquer forma, a Alemanha deve, preferencialmente em colaboração com outros países da UE, concentrar-se em uma defesa eficaz - e isso deverá acontecer. O deputado do Bundestag (Parlamento alemão), Anton Hofreiter, do partido Os Verdes, já estima a necessidade financeira de 500 bilhões de euros, uma quantia vertiginosa. E a Alemanha, também acredita o candidato a chanceler do CDU, Friedrich Merz, deve tomar a iniciativa na Europa.

"Todos esperam da Alemanha uma responsabilidade maior na liderança. Eu sempre enfatizei isso. A Alemanha é, de longe, o país mais populoso da Europa e está no centro geoestratégico do continente europeu. Precisamos cumprir esse papel", disse à DW. Para Merz, o rearmamento da Alemanha não é importante apenas com a Ucrânia em mente: "Não é só sobre a Ucrânia: é a paz na Europa contra uma agressão russa, que também nos atinge aqui na Alemanha todos os dias. Com a ameaça à nossa infraestrutura, à nossa rede de dados, com a ameaça aos cabos de dados no Mar Báltico", acrescentou.

Em relação ao Médio Oriente, no entanto, a influência alemã continuará sendo relativamente pequena, diz analista
Em relação ao Médio Oriente, no entanto, a influência alemã continuará sendo relativamente pequena, diz analistaFoto: Roberto Pfeil/dpa/picture alliance

Israel

Em relação ao Médio Oriente, no entanto, a influência alemã continuará sendo, como no passado, relativamente pequena. O futuro governo também se orientará pelo princípio da "razão de Estado", ou seja, pela defesa consistente do direito à existência de Israel. E continuará a apoiar a "solução de dois Estados" entre um Estado israelense e um palestiniano. Embora isso se torne cada vez mais improvável.

O que isso significa na prática? O centro das atenções parece ser a obtenção de uma defesa própria, o que o atual ministro da Defesa, Boris Pistorius (SPD), já sugeriu com a fórmula "capacidade de guerra" em outubro de 2023. Desde o verão de 2022, há um fundo especial (financiado com novas dívidas) de cerca de 100 bilhões de euros para o rearmamento da Bundeswehr (Forças armadas) que será esgotado até 2028. Depois, os gastos com o exército, atualmente em cerca de 50 bilhões de euros por ano, podem disparar para 80 ou até 90 bilhões de euros.

Se o dinheiro será levantado com mais novas dívidas ou com cortes no orçamento em outros setores, está atualmente no centro de acalorados debates durante a campanha eleitoral. Na opinião do especialista Kiesewetter, esse aumento drástico é essencial para o futuro governo. Sem um forte rearmamento, a Alemanha simplesmente não será mais levada a sério em Washington: "A geoeconomia em relação à futura parceria transatlântica significará que a Europa precisará oferecer um pacote mínimo para manter os EUA como um parceiro forte na Europa e na NATO."

Novos parceiros - Arábia Saudita e América do Sul?

A ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock (Os Verdes), enfatizou repetidamente, em entrevista à emissora alemã ZDF, que uma Europa unida deve ser a resposta para todas as mudanças no mundo: "Somos 450 milhões de pessoas. Somos o maior mercado comum do mundo. Fizemos novas parcerias. E tudo isso precisamos usar juntos agora e não nos perder em detalhes."

Novas parcerias incluiriam acordos com países da região do Golfo. Ou com os países do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, como o acordo de associação com a UE aprovado em dezembro de 2024. Enfim, a Alemanha precisa se desvincular da dependência dos EUA, assumir sua própria defesa e adotar uma política agressiva de interesses em relação à China. Parece ousado e, de fato, é. A Alemanha está no início de uma mudança impressionante em sua política externa.