Educação em Angola: SINPROF não exclui greve
9 de setembro de 2025O ano letivo arrancou, mas os professores angolanos dizem que continuam a trabalhar em condições muito difíceis: turmas sobrelotadas, salários baixos e escolas sem as mínimas condições.
O Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF) alerta que o país precisa de 86 mil docentes e que a greve pode tornar-se inevitável.
Em entrevista à DW África, Admar Jinguma, secretário-geral do SINPROF, explica porque considera que a educação continua a não ser uma prioridade nacional.
DW África: Como encara a situação dos professores em Angola, neste momento em que arranca mais um ano letivo?
Admar Jinguma (AJ): A situação dos professores em Angola é difícil, porque os professores trabalham em condições adversas. As escolas, que são o nosso local de trabalho, não reúnem as mínimas condições para o exercício da profissão docente. Um quarto das escolas públicas do país funciona em estruturas precárias ou rudimentares.
Há turmas com uma relação aluno-professor de 80 ou 90 estudantes, sobretudo no ensino primário. O professor é obrigado a trabalhar com uma multidão de alunos e, nessas circunstâncias, não consegue encontrar estratégias eficazes para melhorar a aprendizagem.
DW África: E em relação aos salários? São compatíveis com a função?
AJ: Do ponto de vista da remuneração, é paupérrima, está muito aquém se comparada com outras categorias profissionais em Angola. Não vamos aqui discutir números, mas o que podemos afirmar é que a remuneração atual não chega sequer para cobrir as necessidades alimentares do agregado familiar do professor. Portanto, a situação do professor em Angola é difícil.
DW África: Há também um problema de falta de professores?
AJ: Sim. Há professores que trabalham em determinadas localidades com cargas excessivas. Em alguns casos, um único professor leciona [sozinho] do primeiro ao sexto ano do ensino primário, porque há uma necessidade gritante de professores em Angola. Segundo dados oficiais, Angola precisa de cerca de 86 mil professores. Infelizmente, os concursos públicos realizados até agora não têm sido suficientes para colmatar este défice.
Estamos perante uma situação muito difícil, reflexo de um sistema que ainda não colocou a educação como prioridade nacional.
DW África: O SINPROF exclui a possibilidade de greve?
AJ: Não, o SINPROF não exclui. A questão da greve é uma possibilidade. Aliás, o SINPROF é que está a protelar. Se dependesse dos professores, a greve seria já, imediatamente. Se hoje mesmo convocarmos uma assembleia para declarar a greve, os professores vão aparecer de forma massiva, como sempre fizeram.
Nós é que estamos a protelar por enquanto, estamos a priorizar o diálogo. Mas a paciência também tem limites. Vemos o país a fazer gastos supérfluos, mas quando se trata dos professores e dos trabalhadores não há dinheiro. Isso não pode ser aceitável. Se o Estado diz que não tem dinheiro, tem de viver com austeridade. Não pode dizer que não há dinheiro e, ao mesmo tempo, esbanjar.
DW África: Que exemplos vê dessa falta de prioridade do Governo?
AJ: Não temos recursos para resolver os problemas dos professores, nem para comprar carteiras — há uma necessidade de 1,5 milhões de carteiras nas nossas escolas. Não temos dinheiro para construir novas escolas e resolver o problema dos acessos. Mas, ao mesmo tempo, gasta-se milhões de dólares para trazer a seleção da Argentina.
DW África: Então, a greve é inevitável?
AJ: A possibilidade de greve não está excluída. Ela existe desde o momento em que os trabalhadores sindicalizados, representados por nós, remetem o caderno reivindicativo. A lei estabelece um prazo de 21 dias após a entrega para negociação. Já se passaram vários períodos desses. Portanto, a greve é iminente.
Estamos a ir até ao limite da ponderação e do bom senso. Se notarmos que não há vontade política, teremos de chamar os trabalhadores para que decidam. E temos consciência de que, se reunirmos a assembleia de professores, a greve será decretada nesse mesmo dia.