Vandalização em Cabo Delgado: "Não conseguimos arrancar"
25 de março de 2025O edifício-sede do posto administrativo, o posto policial e outras infraestruturas públicas em Meza, na província moçambicana de Cabo Delgado, continuam inoperacionais.
As estruturas foram reduzidas a cinzas durante uma alegada manifestação contra os resultados das eleições gerais passadas, ocorrida a 23 de dezembro.
Arlindo Jahala, chefe do posto administrativo de Meza, relata que o grupo responsável pelos distúrbios não era proveniente da região. "O maior número do grupo [que vandalizou as infraestruturas em Meza] era de Minhewne, totalizando 10 aldeias", afirma.
"Eles encontraram-se aqui. As infraestruturas que foram vandalizadas são a residência do chefe do posto, secretaria do posto administrativo, o posto policial e uma residência privada", acrescenta Jahala.
O subsistema de abastecimento de água também não escapou aos atos de vandalismo.
As autoridades confirmam que nenhum serviço público se encontra em funcionamento: "O trabalho parou por completo aqui na secretaria do posto. Ainda não temos como arrancar."
Grupo tem "cunho do mal", diz governador
O governador da província moçambicana de Cabo Delgado, Valige Tauabo, visitou recentemente a região e testemunhou, no local, a destruição.
Para o governante, a contestação eleitoral não justifica o nível de devastação. "Não estamos perante uma reivindicação eleitoral", salienta Tauabo. "Aproveitou-se o momento para se continuar a agir com um cunho do mal, do terrorismo que estamos a combater na nossa província."
Valige Tauabo apela ao fim imediato de ações destrutivas como as registadas em Ancuabe.
É no posto administrativo de Meza que está o maior centro de reassentamento de deslocados do terrorismo em Cabo Delgado, a aldeia de Marokani.
Os reassentados relatam ter acompanhado com apreensão as alegadas manifestações violentas. Associam os episódios de vandalismo em Meza ao mesmo terrorismo que os forçou a abandonar as suas terras de origem.
"Quando saíram bandidos em Nanjua, passámos mal. Dormíamos no mato", comenta Latifa Paulino.
Abel Valente diz ter pensado que "já estava a vir uma outra guerra."
Apesar do chefe do posto administrativo de Meza considerar que a instabilidade pós-eleitoral tende a diminuir, ele diz que se nota ainda um clima de desobediência às autoridades em algumas aldeias, como Nanjua, Minhewne e Napete.