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Dívida pública: Angola reúne-se com investidores

21 de fevereiro de 2025

Angola gasta mais de 25% de receita para servir juros da dívida. Governo reúne-se com investidores e quer emitir dívida pública para equilibrar orçamento.

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Angola - Avenida Marginal em Luanda - Banco Nacional de Angola
Banco Nacional de Angola, na Avenida Marginal em Luanda, é responsável pelo controlo das transações cambiais e emissão da moeda nacional angolana (Kwanza), entre outrasFoto: DW/N. Sul d'Angola

Responsáveis do Ministério das Finanças de Angola vão, na próxima semana, a Boston e a Nova Iorque, nos Estados Unidos, para apresentar as projeções macroeconómicas do país, repetindo a informação disponibilizada aos potenciais investidores do Médio Oriente, segundo avança a agência de notícias Bloomberg com sede em Nova Iorque (EUA).

Na semana passada, o Governo de Angola reuniu-se com potenciais investidores do Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos para aferir o interesse numa emissão de dívida externa. O Executivo do Presidente João Lourenço planeia emitir até 2 mil milhões de dólares (cerca de 1,92 mil milhões de euros) de dívida pública para equilibrar o orçamento e, deste modo, tentar estender as maturidades da dívida atual, baixando assim os custos de servir a dívida.

Angola emitiu 'Eurobonds' (dívida em moeda estrangeira) pela última vez em 2022, quando tentava aproveitar as baixas taxas de juros antes da previsível subida por parte da Reserva Federal norte-americana.

De acordo com a agência de notação financeira Standard & Poor's, Angola terá de pagar 864 milhões de dólares, cerca de 830 milhões de euros, de uma dívida que vence em novembro, enquanto a dívida total externa vale cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB), lembra a Bloomberg. "Este ano, vamos aos mercados emitir Eurobonds", disse o ministro de Estado e da Coordenação Económica de Angola, José de Lima Massano, em declarações à Bloomberg em Davos no final de janeiro, à margem do Fórum Económico Mundial.

Portugal | José de Lima Massano - Angola
"Este ano, vamos aos mercados emitir Eurobonds", disse o ministro de Estado e da Coordenação Económica de Angola, José de Lima MassanoFoto: João Carlos/DW

Massano referiu, na altura, que "não será diferente" do que já fez antes, vincando que o objetivo é emitir "mil milhões de dólares (960 milhões de euros), mas [a operação] pode chegar a dois mil milhões de dólares".

Trajetória decrescente da inflação

Os preços e as maturidades das emissões são "críticos, para não haver pressão adicional sobre a dívida pública", explicou José Massano. acrescentando: "Só espero que a inflação continue na trajetória descendente para podermos ter mais acesso aos fundos", acrescentou otimista.

Em janeiro, o governante previu o alívio da inflação em 2025, com o aumento da produção interna. O executivo lançou um conjunto de medidas estratégicas para estimular a economia angolana e combater a inflação, destacando-se entre elas a criação de uma linha de crédito para o setor agropecuário.

Angola é um dos países africanos que gasta mais dinheiro a pagar juros da dívida do que a investir na educação e saúde, de acordo com o Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (UNDESA).

"Em várias das maiores e mais populosas economias de África, incluindo Angola, Egito, Gana, Nigéria e Uganda, os pagamentos de juros da dívida excederam o total de despesas em educação e saúde nos últimos anos, mostrando as difíceis escolhas políticas que os governos enfrentam", refere o relatório sobre a Situação e Perspetivas Económicas para 2025, divulgado pelas Nações Unidas no princípio de janeiro.

Alguns destes países, incluindo Angola, têm de gastar mais de 25% da sua receita para servir os juros da dívida, indica o relatório, divulgado na mesma altura em que uma análise da Organização Não-Governamental Debt Justice aponta Angola como o país do mundo em que uma maior percentagem da receita (66%) é usada para pagamento de dívida. 

Angola: Sonangol - Soyo
A economia angolana cresceu "ligeiramente acima de 4%" no ano passado, valor igual ao previsto para este ano, alicerçado nos setores fora do petróleo e no programa de privatizações – revelou MassanoFoto: Borralho Ndomba/DW

Dificuldades nos pagamentos de dívida

Angola vai ter de pagar um total de 6,2 mil milhões de dólares (5,9 mil milhões de euros) em 2025, representando 5,2% do PIB, e 5,4 mil milhões de dólares (5,1 mil milhões de euros) em 2026, representando 4,2% do PIB. O valor é comparável com os 5,4 mil milhões de dólares pagos em 2024, segundo diz a Fitch Ratings, agência de classificação de risco, numa análise recente à economia angolana. A agência apresenta estes valores como o total de dívida a ser paga nestes anos, que inclui os juros e os pagamentos na maturidade dos empréstimos.

José Massano reconheceu, na entrevista à Bloomberg, que o país enfrenta dificuldades no âmbito dos pagamentos de dívida, mas salientou que o rácio da dívida sobre o PIB caiu para 60% a 65%. "Estamos a tentar ao máximo alargar as maturidades", disse o ministro, acrescentando que, apesar de o país estar a seguir as diretrizes do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativamente à gestão dos recursos, não vai precisar de outro programa de financiamento.

Massano recordou que a economia angolana cresceu "ligeiramente acima de 4%" no ano passado, valor igual ao previsto para este ano, alicerçado nos setores fora do petróleo e no programa de privatizações. 

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Lusa Agência de notícias