Diálogo com M23: "Só assim é possível um acordo de paz"
12 de março de 2025Angola anunciou que delegações do Governo de Kinshasae do M23 "iniciarão negociações", no dia 18 de março, na cidade de Luanda, para pôr fim do conflito no leste da República Democrática do Congo (RDC) .
Ouvido pela DW, o analista angolano Agostinho Sikatu diz que, uma vez que é a RDC que está "a perder no teatro das operações", a "sua única saída é trazer o M23 à mesa das negociações".
Sikatu acredita que, "com a influência que o Presidente João Lourenço tem, neste momento, na União Africana, conseguirá um acordo de paz". O analista entende que, pelo menos numa primeira fase das negociações, o Ruanda deveria participar.
DW África: Com este anúncio, Angola volta a tomar as rédeas da mediação do conflito M23-RDC?
Agostinho Sikatu (AS): Na verdade, o que Angola vai fazer é continuar o trabalho que já havia começado e que o Presidente João Lourenço praticamente abandonou, quando assumiu a presidência da União Africana. No entanto, depois disso, entendeu que havia necessidade de concluir o trabalho que havia começado.
Agora, sim, tanto os mediadores como as autoridades congolesas conseguem compreender que só será possível um acordo de paz se os conflituantes forem postos à mesa de negociações.
DW África: Esta notícia surge depois de uma visita do Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, a Luanda. Isto pode querer dizer que o país repensou a sua posição e vai aceitar dialogar com o M23?
AS: Sim, o cenário indica exatamente que fará isso, até porque, até agora, é o Governo congolês que está a perder no teatro das operações. Nestas condições, o Governo só tem uma saída, que é trazer o M23 à mesa das negociações.
DW África: As mediações têm falhado constantemente. Se Angola conseguir levar o M23 a Luanda, pode ser o início do fim do conflito? Quais as suas expetativas?
AS: São bastante positivas, na medida em que, com o M23 da mesa das negociações, haverá um acordo de paz, salvo qualquer violação ou desentendimento. Pode, eventualmente, não durar. Pode ser violado, mas haverá um acordo de paz.
Isto também faz parte do plano do Presidente João Lourenço, no âmbito de uma governação mais pacifista, para encontrar soluções. Ele quer sair-se bem neste seu mandato e, para isso, um dos dossiers que ele precisa concluir é este, porque [até aqui] o Presidente João Lourenço praticamente saiu fracassado nesta mediação.
Recordemos que o M23 quase já não o queria ali como mediador, mesmo o Ruanda já não o suportava. Porque, a dada altura, enquanto mediador, Angola preferia claramente uma das partes, que era a República Democrática do Congo. Agora, ao trazer o M23 para a mesa das negociações, Angola posiciona-se num lugar neutro na negociação.
Sendo assim, o Presidente João Lourenço, com a influência que tem agora enquanto presidente da União Africana, conseguirá seguramente um acordo de paz na RDC.
DW África: Faz sentido o Ruanda participar nestas negociações de paz?
AS: Seria bom que o Ruanda também participasse, ou na primeira fase das negociações ou depois de um acordo, estipulando-se cláusulas concretas que proíbam o Ruanda de fornecer equipamentos ou financiamento ao M23. O Ruanda é um ativo importante, nesta altura, que também tem de ser neutralizado, eventualmente com sanções. Tem de se encontrar uma forma de fazer compreender ao Ruanda que fica a perder ao financiar um movimento dentro de outro Estado.