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Diálogo Chapo e Mondlane: Fumo branco à vista em Moçambique?

24 de março de 2025

O Presidente da República e o ex-candidato presidencial reuniram-se, pela primeira vez, no domingo, em busca da paz e estabilidade no país. Mas analista diz que "a paz não se faz com o aperto de mãos", requer muito mais.

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Daniel Chapo e Venâncio Mondlane
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, e o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane reuniram-se, em Maputo, na busca de uma solução para a crise pós-eleitoral que o país atravessaFoto: ALFREDO ZUNIGA/AFP/Getty Images

Nas redes sociais, uns cantam hosanas para celebrar o primeiro frente a frente entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, há muito esperado em Moçambique, para travar a onda de protestos pós-eleitorais. Outros preferem ser mais cautelosos sobre este momento.

Em comunicados de imprensa separados, Chapo e Mondlane assumiram ter deixado os egos de fora para atender ao grito do povo moçambicano e encontrar soluções para a crise que o país vive desde as eleições gerais de outubro de 2024.

Raúl Novinte, antigo edil da cidade de Nacala, na província de Nampula, diz que "mais vale tarde" este encontro "do que nunca".

"Todos ganhamos quando temos a paz, temos o silêncio das armas e temos tranquilidade e harmonia", comenta o político, que também foi braço direito de Mondlane no projeto Coligação Aliança Democrática (CAD).

Sensibilidade ao problemas do país

O analista político José Malaire acrescenta que, "no silêncio da madrugada, nascem boas ideias". Mas o académico advoga cautela, justificando que "a paz não se faz com o aperto de mãos, de aproximação, de mediatização". 

Agentes da polícia confrontam-se com apoiantes de Venâncio Mondlane em março de 2025
Moçambique está, desde outubro de 2024, mergulhado numa crise pós-eleitoral sem precedentes que já provocou a morte de mais de 300 pessoasFoto: Jaijme Álvaro/DW

De acordo com Malaire, "a paz faz-se com originalidade, com sensibilidade, com abertura de espírito e de ação sobre os problemas reais do país".

Entre os problemas, o analista destaca os raptos e assassinatos de opositores que, desde janeiro, têm sido denunciados no país, sobre os quais o Governo não se pronuncia. Por outro lado, reina ainda um certo caos nas ruas. "Temos situações como bloqueios, manifestações um pouco por todo país, sobretudo na zona sul, em que ninguém sabe explicar os seus comandos."

"Há todo um conjunto de situações que paralisam a economia e a sociedade", conclui o docente universitário José Malaire.

Há muito que a Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique se queixa do estrangulamento da economia devido aos protestos pós-eleitorais. Agostinho Vuma, presidente da agremiação, espera que a reunião entre Chapo e Mondlane abra agora o caminho à estabilidade no país.

"Todos os dias, temos tido agitações sociais, o que mostra que temos a responsabilidade de promover a concórdia. Apelo aos dois negociadores de ontem [domingo] para que esse não seja mais um diálogo apenas", disse Agostinho Vuma.

Mondlane fragilizado?

No entanto, o encontro de domingo acontece dias depois da detenção da mandatária financeira do ex-candidato presidencial. O próprio Venâncio Mondlane e o seu assessor Dinis Tivane são alvo de processos em curso na Procuradoria-Geral da República (PGR).

Raúl Novinte, ex-edil de Nacala pela RENAMO
Raúl Novinte, antigo edil da cidade de Nacala, em Nampula, diz que os processos contra Mondlane fragilizam-no nas conversações com Daniel ChapoFoto: Sitoi Lutxeque/DW

Para Raúl Novinte, estes processos fragilizam a capacidade de negociação do político: Ele "vai em desvantagem, encurralado e ameaçado", justifica.

Novinte considera que, para o bem das conversações, era importante a retirada dos processos contra Venâncio Mondlane. Seria ainda necessária uma "amnistia nacional para todos os detidos no âmbito das manifestações".

David Fardo, ativista e presidente do Parlamento Juvenil moçambicano, defende que este é o momento de "encontrar vias de consenso entre os moçambicanos para ultrapassarmos as nossas diferenças e, de forma conjunta, construirmos uma única nação moçambicana".

Venâncio Mondlane era a peça-chave que faltava para o xadrez das negociações em Moçambique, depois da assinatura, em Maputo, a 5 de março, do Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo entre o Presidente da República e nove formações políticas.

O partido FRELIMO defendeu hoje, em comunicado, que o encontro entre o Presidente da República e o ex-candidato presidencial revela a abertura de Chapo para a  "convergência de ideias".