Detido líder de supostos "naparamas" em Nampula
26 de abril de 2025"O indivíduo [de 38 anos] é tido como o chefe de operações e foi o principal mobilizador do grupo para o ataque [...] contra as Forças de Defesa e Segurança. [...] Ele é quem desenhava a estratégias de operação contra as nossas posições", declarou à comunicação social Dércio Samuel, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula.
Em 16 de abril, a polícia moçambicana baleou mortalmente cinco pessoas deste grupo que tentaram atacar uma posição da polícia no distrito de Malema, província de Nampula, avançou, na altura, a corporação.
Segundo as autoridades, o grupo estava munido de azagaias, catanas, marretas e outros instrumentos contundentes e, durante a reação das forças governamentais, além dos cinco óbitos, houve feridos em número desconhecido, além de seis detidos.
Operações conduzidas pelas autoridades levaram também à apreensão de um livro com informações sobre o grupo, que, segundo a polícia, é responsável por outras incursões e roubos nas comunidades.
"É um livro de registo com todos membros naparamas e é com base neste livro que nós estamos a trabalhar para neutralização de todos integrantes desde grupo", acrescentou Dércio Samuel.
Uso desproporcional de força
Dias após o incidente em Malema, o líder da Igreja Católica na província moçambicana de Nampula criticou um "aparentemente desproporcional" uso de força pela polícia no ataque do dia 16 de abril.
"O certo é que houve mortos e vários feridos em conexão com uma reação armada aparentemente desproporcional das forças da lei e ordem. [...] Os nossos padres em serviço na paróquia de Santa Teresa de Menino Jesus de Mutuali [em Malema] contam que, segundo os relatos da polícia local, houve cinco vítimas mortais, enquanto os populares, talvez por hipérbole, falam de 21 mortos", declarou o arcebispo de Nampula, Inácio Saure, durante a celebração da missa da Páscoa no sábado.
Os naparamas, guerreiros tradicionais historicamente respeitados nas comunidades do norte e centro, surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade.
Historicamente, os naparamas classificam-se como uma força que se organizou espontaneamente para a autodefesa da população perante a guerra e os seus elementos submetem-se a ritos de iniciação, destinados a dar-lhes alegada "proteção sobrenatural" que acreditam que os torna imunes, até a balas.
Ataques
Nos últimos meses, as autoridades têm denunciado diversos ataques de grupos que se autoproclamam naparamas em vários pontos de províncias do centro e norte de Moçambique, admitindo, no entanto, em alguns casos, a possibilidade de serem grupos impostores.
Na quinta-feira, o exército moçambicano anunciou o resgate de pelo menos 280 mulheres e crianças, que terão sido raptadas por um grupo que se autoproclamava naparama.
O ministro da Defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, prometeu, ontem, uma "perseguição até às últimas consequências" a estes grupos.
"Nós vamos continuar a proteger as comunidades, mas, por outro lado, a perseguir até às últimas consequências [a estes grupos]. [...] Quando digo que é até as últimas consequências significa vai ser até à eliminação do risco ou da ameaça", disse à comunicação social, Cristóvão Chume.
Em 02 de janeiro, supostos naparamas decapitaram um secretário de bairro no distrito de Murrumbala, na província da Zambézia, e colocaram a cabeça da vítima numa praça pública, disse à Lusa fonte policial, na altura.