Detenção de Gamito dos Santos: "O Estado persegue o povo"
10 de maio de 2025As autoridades policiais de Nampula detiveram, e mais tarde soltaram, na manhã deste sábado (10.05), o ativista social Gamito dos Santos, promotor e líder da manifestação contra a escassez e subida de combustível naquela província.
Gamito dos Santos, também diretor da Associação Koshukuro - organização moçambicana de defesa dos direitos humanos e boa governação, terá submetido, na passada segunda-feira (05.05), um comunicado ao Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique, ao Conselho Municipal local e demais entidades, informando da intenção da realização de uma marcha, este sábado. Tratava-se de uma manifestação pacífica em repúdio à atual crise dos combustiveis que se vive naquela província e um pouco por todo o país.
Marcha impedida
Sucede, porém, que hoje, antes das 9 horas, horário estabelecido para o início da manifestação, os protestantes foram surpreendidos com um contingente policial que os impediu de protestar.
Gamito dos Santos, em discurso aos manifestantes, captado pela imprensa, mostrou-se indignado. "É para vocês perceberem que esta guerra não é de pequena dimensão, e se não formos fortes teremos um país mais ditador. Não é aquela brincadeira ali [ a Polícia] que tem de nos intimidar. Neste país aqui há leis e nós funcionamos com base nelas", disse.
Momentos depois, e com resistência, um grupo de agentes da Polícia arrastou Gamito dos Santos para uma viatura e o levou à 1ª Esquadra da Polícia da República de Moçambique, na cidade de Nampula.
Foi posto em liberdade quatro horas depois, graças à intervenção de uma equipa da Ordem dos Advogados de Moçambique.
A polícia ainda não se pronunciou sobre o caso. A DW contactou o chefe das Relações Publicas da PRM em Nampula, Dércio Samuel, mas este não reagiu.
Comandante-geral da PRM na cidade
No entanto, fonte do departamento das relações públicas da PRM, afirma que "a Polícia achou por bem comunicar o adiamento da manifestação, porque a mesma coincide com a estadia nesta cidade do comandante-geral da PRM que vem em trabalho. Por isso, as atenções estavam todas viradas para essa visita", disse a fonte que não quis ser citada.
Joaquim Pachoneia, ativista e membro da Associação Mentes Resilientes e co-organizador da manifestação, lamentou a atitude das autoridades, que considera intimidatória, mas encorajou a sociedade moçambicana a não vergar e continuar a lutar contra as injustiças.
"Nós submetemos documentos [ da manifestação] e eles autorizaram, mas estão a aparecer do nada a dizer que não há espaço para a marcha. Porque a PRM não nos comunica em formatos oficiais?", disse.
Júnior Rafael, um outro ativista social, lamentou também a detenção de Gamito dos Santos, classificando-a de um ato cruel.
"A prisão de Gamito não é um erro, é um projeto. Um projeto de silenciamento, de medo, de apagamento das vozes que incomodam. Estamos diante um Estado que já não protege o povo, mas o persegue. Um Estado que virou inimigo de quem pensa, de quem questiona, de quem exige justiça", denuncia Rafael.