Desnutrição afeta quase metade das crianças em Nampula
16 de julho de 2025A desnutrição crónica continua a ser um flagelo para as criançasda província mais populosa de Moçambique. António Aljofre, especialista do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), diz que os hábitos alimentares e culturais são as causas.
"Os fatores são muito multidimensionais. Existem questões culturais, porque se verificou que existem zonas onde há, de facto, produção [agrícola] inclusive excedente, mas as pessoas têm hábitos alimentares que não são condizentes com aquilo que se pretende, quando se fala de um melhoramento de nutrição, sobretudo das crianças dos 0 a 5 anos de idade", disse.
Por isso, o especialista defende a necessidade de intervenções coordenadas. "As intervenções não devem ser feitas de forma isolada. Nos últimos anos, depois de muitos investimentos, sobretudo das ONG, não havia uma coordenação, o que fazia com que todo esse esforço se diluísse", explica.
Desnutrição afeta aproveitamento escolar
A situação está a afetar também o aproveitamento escolar. Segundo os dados do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nacional (SETSAN), na província de Nampula, em 100 crianças, cerca de 47 têm dificuldades de aprender a ler e escrever, como consequência da desnutrição.
Na semana passada, o Governo da província e parceiros promoveram a 1ª Conferência Internacional de Nutrição e Agronegócio, para buscar soluções a curto e longo prazo, juntando especialistas brasileiros, sul-africanos, empresários, sociedade civil e outros setores.
O governo central, através de Judite Mussacula, secretária executiva do SETSAN, quer o empresariado como parceiro principal no combate à desnutrição em Moçambique e Nampula em particular. "O setor do agronegócio em Moçambique desempenha um papel crucial no desenvolvimento económico e social, sendo responsável por grande parte dos alimentos para a nossa população", destacou Mussacula.
Empresários pedem políticas concretas
Moçambique dispõe de 36,5 milhões de terras aráveis, mas apenas 15% dessa terra está efetivamente em produção agrícola, de acordo com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
Os empresários garantem apoio, mas contam com a criação de políticas concretas para o setor empresarial privado, declarou o presidente da CTA, Álvaro Massingue.
"Num país com rápido crescimento populacional, a única forma sustentável de garantir a nutrição de forma digna é produzir mais, melhor, localmente e valorizando as cadeias de valores. Por isso, reafirmo em nome da CTA o nosso compromisso firme e inabalável com a causa da nutrição. Expandindo a rede de empresas para nutrição, fortalecendo cadeias de valores locais com impacto nutricional direto", disse.
Na conferência, o Governo provincial assumiu o compromisso de reduzir a desnutrição em 40%, até 2029. Manuel Chicamissa, diretor provincial da Agricultura e Pescas destacou a necessidade de ações coordenadas.
"Para isso acontecer, não é só necessário a produção, mas temos que trabalhar com todos. Há muitos atores que trabalham, mas cada um de forma isolada e às vezes com objetivos próprios. Já iniciamos as conversações com diversas organizações e ficou claro que devemos fazer um alinhamento e mapeamento das intervenções", concluiu.