RENAMO: Descontentes alertam para possível violência
7 de agosto de 2025Num momento de grave crise e declínio político da ex-maior força da oposição em Moçambique, membros descontentes anunciaram a realização de uma reunião nacional.
"O objetivo é refletirmos sobre o presente e o futuro do partido", explica João Machava, porta-voz dos descontentes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Os temas principais do encontro, ainda sem data nem local marcados, serão a crise interna no partido e "a liderança de Ossufo Momade. Porque só a liderança de Momade engloba muita coisa: A má gestão do fundo do partido, má gestão do DDR, má comunicação, tribalismo, tudo na presidência", revela.
Estatutos como arma de arremesso
A liderança da RENAMO, por seu lado, parece seguir à risca o velho adágio popular, que diz "os cães ladram e a caravana passa", pois tem desvalorizado repetidamente as queixas e iniciativas dos descontentes.
Neste caso em particular, a segunda maior força da oposição socorre-se aos estatutos do partido para o fazer. O porta-voz Marcial Macome ressalta: "Eles podem convocar esta reunião, mas não sei em nome de quem o fazem. O partido tem órgãos e estes é que têm a legitimidade de fazer qualquer tipo de convocatória", esclarece.
Macome acrescenta: "Eles são livres de fazerem o que querem, mas ao nível do partido não temos nenhuma reunião dessa natureza e não está prevista a participação do presidente nessa tal reunião."
Porém, é justamente aí que reside um dos problemas na formação: Os estatutos que são invocados como respaldo formal, para ganhar razão, também podem ser usados pelos detratores, para se atribuir o carimbo de vilão. E é justamente o que os descontentes fazem com a liderança da RENAMO.
"O partido tem instrumentos próprios, que são os estatutos, e ele não segue os estatutos. Nos estatutos do nosso partido vem escrito que há duas reuniões por ano. Desde que [Momade] foi eleito, em 2024, até agosto, ainda não se realizou nem uma reunião do conselho nacional", denuncia Machava.
Todos interessados no diálogo, mas nada contece
Para quem acompanha o caso, o longo braço de ferro poderá começar a causar desinteresse. É que, fora o encerramento da sede do partido em Maputo com direito a tiros da Polícia como resposta, em maio passado, nenhuma outra reação às ameaças dos descontentes foi feita. Ainda assim, os descontentes estão confiantes que, um dia, a crise será ultrapassada, acreditando na solidariedade de outros correligionários, inclusive deputados.
A liderança da RENAMO diz-se aberta ao diálogo e exemplifica: "Já fizemos várias tentativas, inclusive da última vez que tentaram fazer o encerramento da delegação provincial do partido na Matola, deslocámo-nos até lá, e eles simplesmente fugiram."
Os descontentes, por sua vez, também se defendem: "Antes de fecharmos delegações, mandámos cartas e [Momade] não respondeu. Já reunimos com a secretária-geral [Clementina Bomba] uma vez e não voltou mais, já reunimos com o general Bobo, prometeram trazer a solução e não voltaram mais.
"Quando a paciência esgota, entra a violência", alerta João Machava.
Os descontentes continuam a fechar as sedes até à resolução do problema e falam em 64 delegações encerradas até ao momento.