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Desastres: "Apoios não são solidariedade, são indemnizações"

5 de setembro de 2025

Ativista diz que apoios após o ciclone Idai são prova que mundo tem consciência que Moçambique é vítima da industrialização. Rui Silva aplaude apelo de Chapo para que se abandonem zonas críticas na época chuvosa.

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Ciclone Idai em Moçambique, 2023
Ativista ambiental Rui Silva aplaude apelo do Presidente Daniel Chapo para que populações de Sofala abandonem zonas críticas durante época chuvosa.Foto: picture-alliance/dpa/Red Cross/C. Haga

Em Moçambique, os desastres naturais, que ciclicamente têm afetado o país a cada época chuvosa, continuam a ser uma ameaça de natureza sistémica, de acordo com o Relatório de Riscos Fiscais para 2026, divulgado na última sexta-feira (29.08) pelo Governo.

Esta realidade foi abordada, esta semana, pelo Presidente Daniel Chapo durante uma visita de trabalho a Buzi. O Chefe de Estado pediu às populações da província central de Sofala para abandonarem as zonas propensas a inundações durante a época chuvosa, ao entregar 840 casas construídas pela fundação Tzu Chi para vítimas do ciclone Idai.

Em entrevista à DW, o ativista ambiental Rui Silva afirma que "este apelo do Presidente faz todo o sentido". Segundo Silva, as autoridades moçambicanas têm consciência dos desafios ambientais a que o país está exposto. E por isso, diz, "há cada vez mais exigências em termos de novas construções". O que falta é fiscalizar.

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DW África: O apelo do Presidente para que as populações abandonem as zonas de risco é é justificado e necessário?

Rui Silva (RS): Sem dúvida que o apelo do Presidente da República faz todo o sentido e é preciso que, para além do apelo do Governo, haja um trabalho também muito próximo com as comunidades, no sentido de lhes podermos explicar o motivo de tentarem habitar noutras zonas que não naquelas que são consideradas de risco.

DW África: No entanto, continua a haver construções nos leitos dos rios. Aí as autoridades terão também uma parte da responsabilidade?

RS: Cada vez há mais exigências em termos de novas construções. No entanto, ainda há um défice muito grande em termos de fiscalizações. Nesse aspeto, acho que seria muito importante que houvesse um trabalho muito próximo com os chefes de quarteirão, os secretários dos bairros, etc, que poderão vir a ser "uma espécie de fiscalizadores", no sentido de alertar as próprias autoridades.

Infelizmente, é verdade que continuamos a assistir a construções em zonas ilegais, mas felizmente já se começa a ver também uma maior atenção, quer por parte do Ministério da Agricultura, Ambiente e Pescas, quer por parte dos próprios municípios. Mas, obviamente, ainda há um trabalho muito grande pela frente a ser feito.

DW África: O Presidente esteve em Buzi, uma zona de risco precisamente banhada pelo Rio Buzi, mas como já referiu, há outras zonas na Zambézia, por exemplo, nas margens do Rio Zambeze e seus afluentes e inclusive também em Maputo. Pode descrever um pouco a geografia desse país que é Moçambique?

RS: Se, por um lado, somos privilegiados por termos um magnífico oceano, por outro lado, também temos consequências. Não nos podemos esquecer que a maioria da população moçambicana vive na zona costeira e a zona costeira é das zonas que mais tem sofrido pelo aumento do nível das águas dos oceanos. Os mais antigos lembram-se perfeitamente, aqui em Maputo ou na Beira, de ir para a praia na Beira e andar imenso tempo na areia até chegar à água. Hoje não, a água está ali em cima.

DW África:  As autoridades governamentais já têm consciência dos perigos que poderão vir nos próximos anos e decénios, tanto do lado do interior, como do lado do mar?

RS:  Têm. Em relação, por exemplo, ao ciclone, eu costumo dizer que naquela altura muita gente dizia que houve uma solidariedade internacional fora do vulgar com as vítimas do ciclone Idai. Eu contrario sempre isso. Aqueles apoios financeiros que alguns países foram entregando para as vítimas, não lhe chamo solidariedade, é quase "uma indemnização". Porque têm consciência que nós estamos a sofrer fruto da industrialização, da poluição de outros países e que acabamos nós por nos tornarmos um país altamente vulnerável.

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