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Decisão sobre a extradição de Manuel Chang é adiada

17 de setembro de 2021

Justiça sul-africana não avança data para decisão sobre contestação do Fórum para a Monitoria do Orçamento à extradição de Chang para Moçambique. Juíza emite ordem que impede extradição enquanto julgamento é aguardado.

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Südafrika Johannesburg | Prozess gegen Manuel Chang, ehemaliger Finanzminister Mosambiks
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet

O Tribunal Superior de Gauteng, em Joanesburgo, vai pronunciar-se em data por definir sobre a contestação à decisão da África do Sul em extraditar o ex-ministro das Finanças Manuel Chang para Moçambique. A informação foi conhecida esta sexta-feira (17.09), depois de nove horas de audição do caso, por videoconferência.

A juíza Margarete Victor emitiu uma ordem que estende o compromisso do ministro da Justiça sul-africano, Ronald Lamola, em não extraditar Chang para Moçambique enquanto se aguarda o julgamento do caso. 

A DW ouviu o especialista em direito internacional André Thomashausen. O alemão que reside na África do Sul acredita que a juíza irá considerar os argumentos e declarar nula a decisão do ministro sul-africano da Justiça, Ronald Lamola.

DW África: Qual é o balanço que faz da audição de hoje?

André Thomashausen (AT): Houve passos feios, em que o advogado instruído pelo Ministério da Justiça começou a atuar com algum desrespeito para com a advogada do do Fórum para a Monitoria do Orçamento (FMO), pretendendo não perceber o apelido dela. E houve emocionalidade, parece que do lado de Moçambique houve gente possivelmente instruída pelo Governo para sabotar a audiência virtual, interrompendo os procedimentos, entrando na sala... Mas houve bom e profundo debate dos problemas legais.

Südafrika Johannesburg | Prozess Manuel Chang, ehemaliger Finanzminister Mosambik | Protest
Tribunal de GautengFoto: DW/M. Maluleque

DW África: Qual a decisão que se pode esperar da África do Sul após esta audição?

TH: Hoje tivemos uma senhora Margarete Victor, que é uma juíza muito reconhecida. É muito racional e muito boa jurista e, portanto, penso que vai considerar muito bem os argumentos e o argumento fundamental e constitucional de que as razões de uma decisão devem estar presentes na altura da tomada da decisão. Não podem ser construídas depois da tomada da decisão, que esse argumento é capaz de valer. Ela é capaz de declarar que a decisão do ministro Ronald Lamola deve ser considerada nula, mas isso não impede o ministro de voltar a tomar a mesma decisão.

DW África: Um dos pontos mais frisados pelo FMO é o da imunidade de Manuel Chang. Hoje, o advogado que representa a Procuradoria-Geral da República de Moçambique confirmou que o ex-ministro não goza dessa imunidade, porém não esclareceu se Chang encontra-se formalmente acusado para ir a julgamento em Moçambique. Qual é a sua leitura?

AT: Pela Lei de Extradição da África do Sul e pelo protocolo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, só pode ser extraditada uma pessoa que é acusada. Uma pessoa procurada por ser testemunha não pode ser extraditada. Portanto, aí já existe um procedimento legal forte, que demonstra uma fragilidade. O outro argumento é que - pela Lei do Segredo de Estado, de 1979 em Moçambique, que ainda está em vigor - Manuel Chang está absolutamente proibido de revelar o que quer que tenha tomado conhecimento enquanto membro do Conselho de Ministros. Quando chamado, [Chang] poderá apenas levantar essa questão.

Ronald Lamola vom Jugendverband des ANC (African National Congress)
Ronald Lamola, ministro da Justiça da África do SulFoto: AFP/Getty Images/S. de Sakutin

DW África: Pretória, por seu lado, salientou que não há evidências de que Chang será submetido a julgamento se for para os Estados Unidos.

AT: A procuradoria lá nos EUA evidentemente também pode tomar decisões sobre o seguimento desse processo e poderá resolver encerrar esse processo. Não é impossível, não sabemos. Porque os EUA surpreendeu um pouco, não tomaram parte ativa do litígio aqui neste processo.

DW África: Esta audição já tinha sido adiada por duas vezes. O que a demora neste processo pode representar também para a África do Sul?

AT: É um bocado triste porque a Presidência de [Cyril] Ramphosa iniciou com a promessa de acabar com a corrupção de alto nível e o ministro da Justiça saiu completamente fora desta vertente. Esperava-se que Lamola e o Presidente Ramaphosa optassem por um processo limpo, seguro, e que submetesse Chang ao serviço judicial dos Estados Unidos.

Decisão sobre extradição de Chang "não surpreendeu"

Cláudia Marques, jornalista da DW Português para África
Cláudia Marques Jornalista multimédia da DW África
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