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Cólera em Angola: Falta de água "é um sinal de negligência"

15 de abril de 2025

Uma das razões para o alastramento rápido da cólera em Angola é a falta de água potável. É o alerta do presidente do Sindicato Nacional dos Médicos, Adriano Manuel. Desde janeiro registaram-se 473 mortes devido ao surto.

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Adriano Manuel, presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola
Adriano Manuel: "Nas últimas 24 horas tivemos mais do que 200 casos de cólera com uma mortalidade que é significativa"Foto: Borralho Ndomba/DW

O país já registou mais 12 mil casos de cólera desde o início do ano, segundo o Ministério da Saúde de Angola. Em entrevista à DW, o médico Adriano Manuel alerta também para a escassez de medicamentos e de soro no combate à doença. 

DW África: Qual é a razão para o contínuo aumento dos casos de cólera?

Adriano Manuel (AM): O que nós temos estado a observar é que não existe distribuição de água potável nestas zonas e isto influencia negativamente para que tenhamos sucesso.

DW África: Há outras questões que concorrem para que não tenham tanto êxito na fila da frente do combate à cólera?

AM: Há também a questão relacionada com as medidas higiénicas. A pobreza, por um lado, e o aumento do custo de vida da nossa população, por outro, tudo isto concorre como é óbvio para que no combate tenhamos algum insucesso.

Mulheres vão buscar água em contentores numa aldeia angolana na província do Bié
Adriano Manuel: "Só o facto de não se distribuir a água potável como deviam distribuir é um sinal de negligência"Foto: Thomas Schulze/dpa/picture-alliance

DW África: Na prática, qual é o cenário atual?

AM: O cenário não é bom. Tenho informações que nas últimas 24 horas tivemos mais do que 200 casos de cólera com uma mortalidade que é significativa. Vamos encontrando um défice de fármacos,  principalmente nas zonas onde vamos tendo cólera no nosso país, nomeadamente os soros de hidratação oral, vamos tendo alguma dificuldade.

DW África: A registarem essas dificuldades, como é que vai ser daqui para a frente para dar um novo impulso e ter êxito no combate à doença?

AM: Tudo depende do Governo, nós apenas identificamos os problemas e qual é a principal causa. A solução passa necessariamente por medidas de prevenção. As informações que tenho é que vão melhorar a vacinação, que é sem sombra de dúvida um dos meios que tem de se usar obrigatoriamente para diminuir o número de casos no nosso país.

DW África: O facto de não haver essa conjugação de esforços, acha que é um sinal também de negligência por parte de algumas autoridades?

AM: Só o facto de não se distribuir água potável como deviam distribuir é um sinal de negligência.

DW África: Quantos casos de cólera já foram registados?

AM: São acima dos 10 mil.

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DW África: Estamos já no quarto mês do ano e os números de cólera continuam a subir. Será que já se perdeu o controlo da doença?

AM: Acho que não. Ainda se tem algum controlo. Há todo um trabalho que está a ser feito no sentido de impedir que [a cólera] se dissemine, também por parte das autoridades [esse trabalho] tem sido feito.

DW África: O que é que está a faltar para travar a progressão da doença, porque, afinal de conta, os casos só aumentam? 

AM: Passa necessariamente por melhorarmos a questão relacionada com a prevenção, por um lado, e por outro, a distribuição deágua potável. É só isso.

DW África: Há muito que se fala de pobreza e da ineficácia do sistema de saúde. Acha que a cólera veio expor como o sistema de saúde em Angola é ainda muito débil?

AM: Evidentemente. Eu costumo afirmar, não existe sistema de saúde, o nosso sistema de saúde não é bom. Nós devíamos ter um sistema de saúde de acordo com os ditames da OMS [Organização Mundial da Saúde]. E a cólera só veio provar isto.

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