Cólera: Desinformação preocupa Governo moçambicano
31 de março de 2025A cólera continua a fustigar Nampula. Esta é uma das províncias moçambicanas que tem registado mais casos da doença. Desde outubro, segundo dados oficiais, o surto já provocou a morte de dezenas de pessoas e infetou mais de 2.000.
De visita a Nampula, no passado fim de semana, o Presidente Daniel Chapo alertou para uma onda de desinformação da doença que tem dificultado os esforços dos profissionais de saúde.
Em Mogovolas, vários técnicos foram mesmo agredidos por cidadãos, alegadamente porque o setor da saúde propaga a doença.
"Há uma desinformação, de que existem pessoas que trazem cólera. Como resultado, há pessoas que estão a ser violentadas", condena Chapo, reforçando que se trata de uma premissa "sem sentido".
A cólera é transmitida pela ingestão de água ou alimentos contaminados, por contacto direto com pessoas infetadas ou por falta de higiene, nomeadamente pela lavagem incorreta das mãos.
Infraestruturas de saúde destruídas
A onda de desinformação tem também provocado a destruição de infraestruturas de saúde na província. "Os nossos agentes polivalentes que querem salvar a vida das pessoas e os nossos líderes comunitários estão a sofrer essa violência, com a alegacão de que eles estão a trazer a cólera. Isso levou à destruição do centro de saúde [em Mogovolas]", repudia.
Além disso, foi destruído um bloco operatório da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras.
O secretário provincial da Cruz Vermelha em Nampula, José Campira, também se mostra preocupado com a situação.
"Às vezes tem havido desinformação e isso coloca em risco os voluntários e outros atores humanitários. A nível da cidade [de Nampula] as pessoas têm um nível de perceção um pouco diferente, mas noutros distritos, por exemplo na Ilha de Moçambique e Mossuril, as pessoas ainda têm esses sentimentos de que a cólera é trazida por alguns indivíduos, mas isto é um mito que precisamos de quebrar", vinca.
José Campira frisa que a cólera é uma doença que se pode prevenir, nomeadamente evitando beber água do rio, fervendo a água, cozinhando bem os alimentos, evitando comê-los crus e lavando as mãos várias vezes. "Os técnicos de saúde e voluntários estão no terreno para ajudar as pessoas", sublinha.
De acordo com José Campira, a Cruz Vermelha de Moçambique "está neste momento em processo de ativação dos voluntários". "Numa primeira fase, vamos ativar 50 voluntários, sendo 20 para o distrito de Murrupula e 30 para a cidade de Nampula", acrescenta.