Crise na RENAMO: Partido insiste em não assumir a queda
19 de maio de 2025A ex-maior força da oposição em Moçambique não vive os seus melhores dias. Para além de já ter perdido credibilidade junto do povo, vive um mal-estar interno que escala a cada dia. Exemplos são o cerco que os ex-guerrilheiros do partido fizeram a sede da formação na cidade de Maputo, na última semana, para exigir a saída imediata de Ossufo Momade da liderança e as ameaças de violência e de cerco a casa do líder.
Além disso, a RENAMO teria publicado numa das suas páginas no Facebook um comunicado em que denunciava "os mandantes da desestabilização da RENAMO a todo o custo". Muchanga, Magumisse e Muchacuare são alguns dos acusados, mas é Elias Dhlakama, irmão do falecido líder Afonso, o apontado como cabeça do movimento para derrubar Ossufo Momade. Porém, o comunicado foi rapidamente retirado da página.
Entretanto, o partido nega que o comunicado seja da sua autoria. A DW entrevistou o porta-voz Marcial Macome, sobre os crescentes problemas da RENAMO:
DW: Recentemente, Fernando Mazanga, membro da RENAMO, disse, em entrevista a um canal moçambicano, que Ossufo Momade não gozava de boa saúde. A RENAMO confirma?
Marcial Macome (MM): Não confirmo, não sei. Pelo que eu saiba, olíder da RENAMO goza de boa saúde, tanto é que na quinta-feira (15.05) esteve a trabalhar no gabinete, reunido com alguns membros do partido e alguns membros da comissão política. Penso que a reunião terminou por volta das duas da madrugada. Então, sobre essa questão da doença, havendo ou não, penso que é uma questão de vida privada e institucionalmente não nos cabe emitir parecer sobre isso. A vida privada do presidente do partido diz respeito a ele, e querendo, ele poderá se pronunciar sobre essa matéria. Nós como partido não nos pronunciamos sobre a vida privada, mas sim sobre a vida pública da instituição.
DW: Mesmo que o estado de saúde do líder afetasse a vida partidária da RENAMO, também não se pronunciariam?
MM: Assim sendo, o partido tem órgãos, os órgãos reuniriam-se para deliberar em torno dessa matéria e teriamos um pronunciamento em torno disso. Neste momento os órgãos não se reuniram porque essa informação até então não é um assunto do partido, a ser verdade. O que o vice-presidente Mazanga disse, a ser verdade, é um assunto que provavelmente ele tenha essa informação, não sei de que maneira. É um assunto que talvez falou na qualidade de amigo ou não, então, nós não podemos comentar o parecer de uma pessoa. Institucionalmente não vamos comentar sobre isso, o que vamos comentar é a ação da instituição em si.
DW: A RENAMO está a evidenciar sinais de estar a caminhar para o descalabro, por exemplo, com manifestações internas dos ex-guerrilheiros que cercaram a sede da RENAMO em Maputo a exigirem a demissão do líder do partido. Como estão a gerir esta crise?
MM: Se a RENAMO está em descalabro, deve lembrar-se que a RENAMOé considerada o pai da democracia em Moçambique. Agora, se a democracia no mundo está em crise, significa que os pais da democracia também poderão estar em crise. Em algum momento assistimos a situações análogas aquando a invasão do capitólio nos EUA e nem por isso os EUA deixaram de ser os EUA. O que está em causa aqui, não é o que foi feito, o que está em causa é como se resolve estas situações, como se sai destas situações. Como deve saber, na teoria da ciência política, a crise da democracia é um problema não da RENAMO, é um problema do mundo. As democracias por si só elas estão em crise, precisam de se reiventar. É dentro deste contexto que provavelmente a RENAMO também, como defensora da democracia em Moçambique, precisa reinventar-se para poder agregar todos os estratos que fazem parte desta nova conjuntura da democracia a nível mundial.
DW: Para muitos membros da RENAMO a solução para esta crise passa necessariamente pela saída de Ossufo Momade do poder. Momade já demonstrou vontade de o fazer em nome da saúde e do bem estar da RENAMO?
MM: Essa questão da saída ou não de Ossufo Momade poderá ser discutida dentro dos órgãos do partido, não é pela vontade individual. Se fosse pela vontade individual, há-de reparar que logo após a eleição de Donald Trump houve um movimento para ele sair e em todas as democracias isso acontece. E não sei se é a saída correta ou não, mas é uma das saídas propostas por estes fulanos. Poderá ser discutida, como todas as questões que tem a ver com a RENAMO, porque há quem coloque exclusivamente o problema como um problema da liderança, mas se nos lembrarmos, a liderança atinge os seus resultados de acordo com a ação dos seus colaboradores. Então, é preciso adentrar ao problema não de forma leviana, mas de forma profunda para perceber o que é que se pode fazer e não medidas extremas. Somos daqueles que acreditamos que os extremos em democracias levam ao pior. Então, é preciso encontrar um meio termo que nos permita encontrar pontos comuns para ultrapassar esta situação.
DW: E o que é que a RENAMO está a fazer para ultrapassar essa situação?
MM: Está a trabalhar nisso com todas as forças vivas internas e externas para ultrapassar a situação.
DW: O vosso conselho nacional foi adiado sine die. Este seria o contexto ideal para se resolver os mal entendidos dentro da RENAMO. Por que está a ser adiado?
MM: Ainda semana passada estivemos a trabalhar na organização doconselho nacional. E em breve a comissão política irá reunir-se e irá se pronunciar sobre a data e o local da realização do conselho nacional.