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Crise na LAM aumenta risco de colapso de empresas públicas

16 de junho de 2025

A crise das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) está instalada há anos. A empresa pública tem acumulado prejuízos e não se vislumbra solução. À DW, o cientista político Albano Brito fala de uma crise profunda.

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LAM (Linhas Aéreas de Moçambique), no Aeroporto de Nampula, no norte de Moçambique
Responsável por mais de 40% das suas receitas, a LAM tornou-se um fatro de instabilidade para a AdM, acumulando dívidas em mora que, em 2023, ultrapassavam os 4,8 mil milhões de MT Foto: Johannes Beck/DW

A crise da transportadora aérea moçambicana LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) está longe de ser apenas um problema interno de má gestão e endividamento. Segundo observadores ouvidos pela DW, a falta de coragem política para implementar reformas estruturais tem perpetuado um cenário de colapso iminente, com repercussões diretas em outras empresas públicas, como os Aeroportos de Moçambique (AdM).

O Centro de Integridade Pública (CIP) confirma que a dependência da LAM é tão profunda que já ameaça a sustentabilidade financeira da AdM, agravada por dívidas elevadas e investimentos ruinosos em infraestruturas pouco rentáveis.

Em entrevista à DW, o cientista político Albano Brito analisa a crise não apenas como um problema de finanças ou gestão, mas como uma manifestação de disfunções políticas e estruturais que corroem o próprio Estado moçambicano.

DW África: Como interpreta as severas críticas lançadas pelo Presidente da República à gestão da LAM?

Albano Brito (AB): Eu vejo aqui continuidade da campanha do Presidente Daniel Chapo, uma campanha política que procura mostrar que está, em parte, preocupado com grandes reformas. Isso passa também por utilizar problemas que estão a apoquentar Moçambique, como é o caso da LAM, como uma espécie de escudo para se proteger das críticas que vão contra ele.

Dizer que há uma espécie de "raposa”, entre outras coisas que estão a corroer o processo de reforma, é também um discurso que demonstra que, em parte, está preocupado e que, portanto, vai desde já alertar a população se há problemas de resolução e porque há entraves para poder resolver os problemas estruturais que estão dentro da LAM.

Etiópia | Presidente de Moçambique Daniel Chapo na Cimeira da UA
Daniel Chapo disse, em 28 de abril, que há "raposas e corruptos" dentro da LAMFoto: Amanuel Sileshi/AFP

DW África: Mas as críticas de Daniel Chapo têm razão de ser? Há uma crise grave instalada nas linhas aéreas de Moçambique LAM?

AB: Efetivamente. A LAM enfrenta uma crise grave e já há muito tempo. Deixe-me só recordar um elemento importante: Antes de se chamar LAM - ainda durante o período colonial - a empresa aérea de Moçambique foi considerada como uma das melhores de África e isto constituiu, para Moçambique, uma espécie de um capital simbólico regional e internacional, mas também um ativo estratégico do Estado moçambicano na altura.

O problema da LAM hoje, embora se diga que seja um problema de gestão, vai muito além. É um problema político. Há problemas financeiros, há problemas com a definição de rotas não lucrativas a nível interno de Moçambique, mas também problemas de rotas com pouco benefício para Moçambique ao nível da região.

DW África: Um dos mais graves problemas é que a crise na LAM tem produzido efeitos diretos e gravemente lesivos sobre a sustentabilidade de outras empresas como a empresa aeroportos de Moçambique. Houve também aquele problema com o aeroporto de Nacala. Isto pode transformar-se numa bola de neve ou não?

AB: Há uma dívida enorme entre a LAM e os aeroportos de Moçambique, entre outros atores, não só em Moçambique.

A LAM já tem uma dívida também com outros países. Então, efetivamente, os problemas da LAM vão constituir uma espécie de um problema que vai transbordar a outras empresas e efetivamente os aeroportos de Moçambique vão sofrer os impactos estruturais por albergar uma empresa como a LAM, que está em profunda crise.

DW África: E o Albano Brito vê o perigo de LAM simplesmente desaparecer ou de ser comprada? Esse perigo é real?

AB:  Não vaticino o fim da LAM, porque a LAM é mais do que uma empresa de transporte aéreo. Ela representa a imagem do Estado moçambicano. Logo, há um grande interesse do Estado moçambicano em querer preservar esta marca.

DW África: Voltando à questão inicial, portanto, o Governo moçambicano, liderado pelo Presidente Daniel Chapo, tem aqui uma batata quente de difícil resolução?

AB:  Sabemos que a estrutura do Estado de Moçambique tem uma ligação neopatrimonial, então ele está prisioneiro entre reformas, mas também entre salvar a imagem do Estado e salvar a imagem da FRELIMO que, neste momento, está extremamente conturbada. Portanto, não há dúvida de que o Presidente Daniel Chapo está com uma batata quente agora. 

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