Crise de combustíveis: Nampula entre regiões mais afetadas
12 de maio de 2025A escassez de combustíveis arrasta-se desde o final de março e afeta várias províncias, em Moçambique, com destaque para Nampula, a mais populosa.
Segundo relatos de residentes, a maioria das bombas de combustível está inoperacional, o que tem forçado os cidadãos a passar horas, e por vezes noites inteiras, à procura do produto. Muitos cidadãos passam madrugadas em filas à espera de abastecer.
"Estou aqui desde as 4 horas da manhã e até agora, 9 horas, não consegui comprar combustível. A maioria chegou por volta das 3 horas, mas ninguém abasteceu. O combustível está caro e também não há", queixa-se o taxista Gildo Alberto.
O operador de mototáxi Mário Inácio partilha o mesmo drama. Diz que, além da escassez, enfrenta a queda de clientes. "É muito preocupante para nós que somos taxistas. Para conseguir 100 meticais na estrada, desde manhã, início de atividades, até agora ao princípio da tarde, não tem sido fácil, não há clientes", lamenta.
Mercado informal expande-se
Com a escassez, o mercado informal tem-se expandido. Vários cidadãos revendem combustível adquirido nas bombas, muitas vezes em condições inadequadas. Um litro de gasolina, cujo preço oficial é de 85,82 meticais (cerca de 1,18 euros), chega a ser vendido a 300 meticais ou mais no mercado paralelo.
Amade Bernardo, técnico de saúde, encontrou na revenda de combustível uma forma de aumentar os rendimentos. "Compramos nas bombas a 90 meticais por litro e revendemos entre 110 e 120. Usamos latas específicas para armazenar e depois distribuímos em garrafas", explica.
Entre os consumidores, cresce a percepção de que as elites políticas e económicas não enfrentam as mesmas dificuldades. Acusam alguns postos de combustível de priorizarem o abastecimento a veículos governamentais ou de empresas ligadas ao Estado, enquanto a população em geral permanece nas filas.
O gestor da bomba Eco, Miguel Amorim, refutou as alegações, garantindo que os contratos com clientes institucionais são cumpridos sem favorecimentos. "Em princípio, não é bom priorizar o Governo. Nós, como empresa, temos contratos firmados com os nossos clientes, e, em nenhum momento, devemos falhar no cumprimento desses compromissos", disse.
População quer respostas
No dia 29 de abril, o governador de Nampula, Eduardo Mariano Abdula, assegurou que a situação seria resolvida "ao longo da semana", afirmando que o combustível já tinha chegado e aguardava apenas procedimentos logísticos para distribuição.
"Neste momento, trata-se apenas de questões de descarga. Mas, segundo me informaram ainda hoje, a gasolina começará a estar disponível", disse na altura.
Contudo, duas semanas depois, a situação mantém-se praticamente inalterada.
A frustração tem alimentado mobilizações civis. No último sábado (10.05), a organização Koshukuro liderou uma manifestação pacífica em Nampula, exigindo esclarecimentos do setor da Energia.
Gamito dos Santos, ativista social e diretor-executivo da organização, criticou a ausência de comunicação oficial: "Os governantes acham que só temos deveres, mas nunca temos direitos. Não podemos ressuscitar uma instituição pública para vir a público explicar o que se está a passar. E é hábito dos governantes deste país não dizerem nada em casos de crise."