Corredor de Mtwara aproxima Moçambique e Tanzânia
10 de julho de 2025A estrada Mueda-Negomano, no norte de Moçambique, está a transformar a ligação com a Tanzânia e a impulsionar o comércio regional. A reabilitação do troço reduziu o tempo de viagem de cerca de uma semana para apenas algumas horas, fortalecendo as trocas comerciais entre os dois países.
Financiada pelo Governo de Moçambique e peloBanco Africano de Desenvolvimento (BAD), a infraestrutura integra o Corredor de Desenvolvimento de Mtwara, que conecta os portos de Pemba (Moçambique) e Mtwara (Tanzânia), através da Ponte da Unidade. O projeto é considerado estratégico para a integração regional e o desenvolvimento socioeconómico das zonas fronteiriças.
O camionista Raul Eusébio, que transporta tinta da Tanzânia para a província de Nampula, destaca os ganhos com a melhoria da estrada.
"A estrada agora está boa e permite que os carros andem confortavelmente, ao contrário do que acontecia antes. Para percorrer a estrada, tinha de preparar panelas para cozinhar pelo meio. A viagem durava três a quatro dias", exclamou.
Trocas comerciais intensificadas
A via tornou-se essencial para a importação de viaturas via Dar es Salaam, além de produtos alimentares, vestuário e materiais de construção. Em contrapartida, Moçambique exporta madeira, pescado, sal e cerca de 40 mil toneladas de castanha de caju por ano.
Comerciantes que utilizam o mercado tanzaniano para adquirir mercadorias elogiam o projeto de asfaltagem, reconhecendo o impacto na gestão do tempo — fator decisivo para a atividade comercial.
Momade Ame, importador de vestuário, relata as melhorias: "Antes, gastava oito horas de tempo, para vir de Mueda para aqui [na fronteira com a Tanzânia]. Agora preciso só de cerca de duas horas", sublinhou.
Segunda fase das obras em curso
A melhoria na transitabilidade ocorre mesmo tendo sido apenas concluídos 70 dos 170 quilómetros da estrada em Moçambique. A segunda fase das obras está em curso e abrange o troço entre Roma e a sede distrital de Mueda, numa extensão de 100 quilómetros.
De acordo com a Administração Nacional de Estradas (ANE), a via está a ser construída com padrões de alta resiliência, adaptados às crises provocadas pelas alterações climáticas, que frequentemente afetam a região.
"Tendo em conta a evolução da obra, nós estimamos que, ainda no decurso deste ano, iremos proceder à asfaltagem das primeiras extensões desta estrada. Já temos o material britado para avançar", garantiu Jorge Govanhica, delegado da ANE em Cabo Delgado.
Benefícios sociais e desafios de segurança
A infraestrutura tem impacto direto na vida das comunidades locais, sobretudo em Mueda, onde 15 quilómetros atravessam a zona urbana.
O presidente do município, Manuel Pita Alavelave, destaca o reforço dos laços históricos entre Moçambique e a Tanzânia: "Já há uma comunicação entre Tanzânia e Moçambique em curto tempo. É um grande benefício para os dois povos: Se um moçambicano quer ir a um hospital da Tanzânia, tornou-se rápido e facilitado o trajeto, e vice-versa", declarou.
Apesar de impulsionar as trocas comerciais, o corredor enfrenta ameaças à segurança, especialmente ao longo do trecho que liga Mueda à cidade de Pemba, capital de Cabo Delgado. Viajantes que dependem da Estrada Nacional 380, ciclicamente alvo de ataques terroristas, apelam por medidas de segurança mais robustas, para garantir o transporte seguro de mercadorias até ao destino final.