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Congoleses em Angola preocupados com conflito na RDC

20 de fevereiro de 2025

Cidadãos congoleses residentes em Angola ouvidos pela DW mostram-se preocupados com o intensificar do conflito na República Democrática do Congo (RDC), embora as opiniões sobre as razões da guerra sejam divergentes.

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Membros do grupo armado M23 numa carrinha patrulham Goma
O grupo armado M23 já controla a cidade de GomaFoto: AFP/Getty Images

Em Angola, há milhares de imigrantes da República Democrática do Congo (RDC). A maioria, na capital angolana, encontra-se sobretudo em zonas periféricas, como Cazenga, Cacuaco e Kilamba Kiaxe. O que pensam os congoleses sobre a guerra no seu país?

Quase ninguém aceita responder à pergunta alegando não gostar de falar sobre política. Mas nos seus estabelecimentos comerciais é o tema dominante, a par do desporto.

Os poucos desafiados pela DW aceitaram falar sob condição de anonimato. Um deles lembra que o conflito não é novo. Segundo diz, tudo começa com a forma como foi alcançada a independência da Bélgica, a 30 de junho de 1960. "Patrice Lumumba queria independência total, mas os belgas não queriam independência total. Para mim aí já começaram os conflitos", afirma.

Desde então, os conflitos sucederam-se apesar dos vários acordos. Em dezembro de 2013, assinou-se o acordo entre o M23 e o Governo congolês, em Nairobi, Quénia, na sequência do "Diálogo de Kampala". Contudo, nos últimos tempos, a guerra no leste da RDC intensificou-se com os rebeldes supostamente apoiados por Ruanda a tomarem as capitais dos Kivu do Norte e do Sul. O M23 exige que o Congo cumpra o acordo. Tem razão de ser?

"Tem razão pelo acordo. Mas também não tem razão pela totalidade, porque se sabem que têm razão então podemos fazer a política pacificamente. Sem guerra", considera outro cidadão congolês.

Enquanto se aguarda por uma resolução pacifica, outro cidadão deixa uma sugestão: a militarização da RDC: "Pelo interesse do país, para nós não perdermos o país. Temos de militarizar o país", defende.

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"Todos pela riqueza"

O Ruanda é acusado frequentemente de apoiar o M23 para saquerar a riqueza do país vizinho. Mas outro cidadão entende que também há "mão invisível" do ocidente: "França, Alemanha, Bélgica, Inglaterra. Todos pela riqueza", argumenta.

Outro cidadão da RDC, que falou sob anonimato, classifca a guerra como "teatro". Ele vai mais longe e acusa o Presidente Félix Tshisekedi de conivência: "Então, alguém invade a minha casa, já entrou em minha casa, não vou lhe agir porquê? Se não ajo porque tenho algo a esconder."

Questionado sobre se o estadista congolês não estaria a previligiar o dialogo para resolução deste conflito, responde: "Acho que não. Porque se fosse para diálogo, ele já esteve em Angola e no Kenya também não foi".

Sobre a mediação de Angola preferem não comentar. O país tem mediado o conflito, tendo produzido o Roteiro de Luanda, mas sem resultados positivos. Por exemplo, no ano passado, o Governo angolano anunciou um cessar-fogo no leste do Congo, mas o conflito viria a intensificar-se meses depois.

No fim-de-semana passado, o Presidente angolano, João Lourenço, assumiu a presidência rotativa da União Africana.  Espera-se por mais empenho pela paz na RDC? Cláudio Fortuna, investigador do Centro de Esrudos Africanos da Universidade Católica de Angola, não tem dúvidas.

"É de todo importante que ele tenha a particularidade ou autoridade de trazer para mesa das negociações o M23 porque o busílis da questão passa, sobretudo pelo M23. Se não conseguir trazer o M23 vamos continuar a ter o fim do conforto cada vez mais adiado", conclui.

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Manuel Luamba Correspondente da DW África em Angola