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Cimeira em Luanda reacende disputa China-EUA em África

24 de junho de 2025

Analistas angolanos divergem quanto ao impacto da competição entre as duas potências no continente africano. Os dados evidenciam estratégias de investimento distintas.

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Angola Luanda 2025 | Cimeira EUA-África | Foto de grupo com o presidente João Lourenço
Enquanto os EUA apostam no Atlântico, com o Corredor do Lobito, a China reforça a sua presença no ÍndicoFoto: Borralho Ndomba/DW

A 17.ª Cimeira de Negócios EUA-África, que decorre até esta quarta-feira na capital angolana, voltou a trazer para o centro do debate a crescente disputa económica entre os Estados Unidos da América e a China no continente africano. Analistas ouvidos pela DW mostram-se divididos quanto à natureza e ao impacto desta rivalidade, mas os números falam por si.

Segundo dados recentes, a China investiu mais de 10 mil milhões de dólares no setor mineiro em países como a República Democrática do Congo, o Botswana e o Zimbabué. Por outro lado, os EUA canalizaram 1,3 mil milhões de dólares para o Corredor do Lobito, em Angola, ao abrigo de um acordo assinado em 2024, em Dallas, durante a última cimeira EUA-África.

Para Faustino Henriques, especialista angolano em relações internacionais, a ideia de uma disputa direta entre as duas potências deve ser relativizada: "Não faz muito sentido empolarmos a ideia de uma suposta competição que possa transformar-se num jogo de soma zero, em que a derrota de uns significa necessariamente a vitória de outros", afirma.

Já o economista Carlos Quivota considera que a rivalidade é real e multifacetada. "A grande disputa entre os EUA e a China está mais voltada para as competições económicas, mas também envolve tensões geopolíticas e tecnológicas", sublinha.

 Donald Trump e Xi Jinping
Investimentos da China e EUA em África geram debate em LuandaFoto: Kevin Lamarque/REUTERS

Corredor do Lobito e o olhar de Trump

A geografia dos investimentos revela igualmente estratégias distintas: Enquanto os EUA apostam no Atlântico, com o Corredor do Lobito, a China reforça a sua presença no Índico, com um investimento de mil milhões de dólares na reabilitação do corredor ferroviário entre a Zâmbia e Dar es Salaam, na Tanzânia.

Quanto ao futuro do Corredor do Lobito, o especialista Faustino Henriques considera prematuro tirar conclusões sobre o posicionamento da nova administração norte-americana. "Há diferenças entre os últimos anos de Biden e os primeiros [meses] de Trump, mas é cedo para avaliar. O secretário de Estado para os Assuntos Africanos garantiu que 'nada mudou'", refere.

O economista Carlos Quivota, por sua vez, acredita que Donald Trump reconhece o valor estratégico do projeto.

"Trump é um homem visionário em termos de negócios e compreendeu os benefícios do Corredor do Lobito para Angola, para a região e para os próprios Estados Unidos, nomeadamente na redução das despesas alfandegárias", conclui.

A Cimeira de Negócios EUA-África termina esta quarta-feira, 25 de junho, com a expectativa de novos anúncios de investimento e parcerias estratégicas.

À lupa: O incentivo tardio de Biden no Corredor do Lobito

Manuel Luamba Correspondente da DW África em Angola