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Cessar-fogo na Ucrânia: O que querem Rússia, EUA e UE?

Astrid Prange De Oliveira
14 de março de 2025

Washington e Kiev estão a pressionar para um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, mas, até agora, a Rússia rejeitou a proposta. Que interesses estão em jogo no que toca às partes envolvidas nas negociações?

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Veículos militares russos destruídos em Bucha, Ucrânia
Até há pouco tempo, a posição oficial de Kiev era a de que ‘não negociaria com Putin’Foto: Serhii Nuzhnenko/AP Photo/picture alliance

Uma reunião entre representantes dos EUA e da Ucrânia na Arábia Saudita, no início desta semana, gerou esperança num cessar-fogo temporário na Ucrânia. Aqui está um resumo do que está em causa.

Rússia

Até à data, o governo russo demonstrou pouco interesse em negociações de paz com a Ucrânia.

Yuri Ushakov, conselheiro do Presidente Vladimir Putin, disse à agência de notícias russa Interfax, na quinta-feira (13.03), que a proposta de um cessar-fogo temporário na Ucrânia era "apressada". Qualquer acordo de paz, afirmou, deve "ter em consideração os interesses e preocupações legítimas [da Rússia]" e não simplesmente "dar um fôlego às forças militares ucranianas".

Especialistas acreditam que Moscovo pretende afastar a NATO da Europa de Leste e aumentar a influência russa na Ucrânia. "Não creio que seja realista que a Rússia aceite algo em que a Ucrânia permaneça independente e soberana", disse Janis Kluge, especialista em assuntos russos do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, referindo-se às exigências reiteradas de Moscovo de que a Ucrânia deve realizar eleições.

Esta estratégia está alinhada com as condições impostas por Moscovo para quaisquer negociações de paz. Entre elas, destaca-se a insistência de que não tolerará tropas de manutenção da paz estrangeiras na Ucrânia. Além disso, não está disposta a aceitar uma eventual adesão da Ucrânia à NATO

É também muito improvável que a Rússia devolva quaisquer territórios ucranianos já anexados. Pelo contrário: no final de fevereiro, Putin propôs ao Presidente dos EUA, Donald Trump, um acordo separado que permitiria aos EUA explorarem recursos nas regiões ucranianas ocupadas pela Rússia. Numa entrevista televisiva, Putin declarou que a Rússia estava pronta para "cooperar com parceiros estrangeiros, incluindo os americanos, nas novas regiões".

Moscovo tem um forte interesse em persuadir o Ocidente a levantar as sanções impostas desde o início da invasão da Ucrânia. Inicialmente, a economia de guerra impulsionou um crescimento na Rússia, mas esse efeito já estagnou.

Estados Unidos

Trump quer capitalizar politicamente ao posicionar-se como mediador da paz. Embora não tenha conseguido cumprir a promessa de campanha de pôr fim à guerra na Ucrânia em 24 horas, conseguiu aumentar a pressão sobre Kiev e Moscovo.

Na recente reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 em Charlevoix, no Canadá, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que uma declaração conjunta "perfeita" do G7 após esse encontro seria que "os Estados Unidos fizeram algo de bom para o mundo ao levar este processo adiante".

Um acordo de paz também facilitaria a Trump a redução da ajuda militar e humanitária à Ucrânia, alinhando-se com os seus planos de diminuir o envolvimento dos EUA na NATO e forçar os países europeus a aumentarem os seus gastos em defesa.

Os EUA também têm interesse no acesso a matérias-primas. A Ucrânia possui recursos fósseis, como gás, e importantes reservas minerais. Um acordo proposto entre a Ucrânia e os EUA falhou inicialmente após um aceso debate público entre Trump, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca, no final de fevereiro. Desde então, Zelensky declarou que está pronto para assinar o acordo.

Observadores temem que a pressão que Trump colocou sobre si próprio ao prometer acabar rapidamente com a guerra possa levá-lo a fazer concessões significativas a Putin.

União Europeia

A guerra na Ucrânia e o receio de uma escalada do conflito levaram os países da UE a aumentar drasticamente os gastos com defesa. A Finlândia e a Suécia, que permaneceram neutras durante décadas, aderiram agora à NATO.

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a maioria dos Estados-membros da UE aderiu às sanções contra a Rússia. "Devemos colocar a Ucrânia na posição mais forte possível. As sanções proporcionam alavancagem", afirmou a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, no mês passado, quando o bloco de 27 nações impôs a sua 16.ª ronda de sanções.

Ucrânia e UE rejeitam acordo Trump-Putin

Bruxelas também quer conter a crescente influência da Rússia na Europa, razão pela qual ofereceu à Ucrânia a perspetiva de adesão à UE. Em junho de 2022, o país tornou-se candidato oficial à União Europeia.

Entre os países que mantêm relações próximas ou cooperam com Moscovo estão os Estados-membros da UE Hungria e Eslováquia, bem como a Sérvia, país candidato à adesão à UE. Na Roménia, o candidato presidencial de extrema-direita Calin Georgescu teve o apoio de Moscovo, mas o Tribunal Constitucional da Roménia excluiu-o posteriormente da corrida eleitoral.

Ucrânia

Sob forte pressão dos EUA, Zelensky declarou-se disposto a fazer concessões. Até recentemente, a posição oficial de Kiev era que "não negociaria com Putin" e que pretendia "reconquistar todos os territórios ocupados pela Rússia, incluindo a Crimeia e o leste da Ucrânia".

Agora, após o desentendimento na Casa Branca, Kiev considera uma vitória o facto de os EUA terem retomado o fornecimento de ajuda militar e a troca de informações de inteligência, que estavam suspensos. Existe também a possibilidade de que garantias de segurança voltem a fazer parte de um eventual acordo.

Embora a proposta atual de cessar-fogo possa não incluir, de imediato, a devolução dos territórios ocupados, a Ucrânia continua a ambicionar recuperá-los a longo prazo. Ao mesmo tempo, Kiev conta com o apoio internacional para fortalecer a sua posição e manter a pressão sobre Moscovo. 

A "lista de desejos" de Zelensky