Corredor do Lobito: Campos minados ameaçam o progresso
24 de abril de 2025Cerca de 200 campos minados continuam a representar uma ameaça ao desenvolvimento no Corredor do Lobito, que atravessa as províncias do Bié e do Moxico, segundo a organização britânica The HALO Trust, que opera em Angola desde 1994.
A Agência Nacional de Ação Contra as Minas (ANAM) estima que serão necessários cerca de 240 milhões de dólares norte-americanos para eliminar todas as minas identificadas na região.
O brigadeiro Leonardo Sapalo, diretor-geral da ANAM, explicou que os trabalhos nas províncias de Benguela e do Huambo estão quase concluídos, mas outras zonas continuam a preocupar:
"No Corredor do Lobito, como já dissemos, nas províncias de Benguela e do Huambo, em termos de áreas minadas conhecidas, estamos praticamente a concluir os trabalhos. Mas a maior atenção agora está voltada para o Bié, o Moxico e o Moxico Leste”, disse.
Segurança ao longo da linha férrea
Segundo o responsável, a desminagem ao longo da linha do caminho-de-ferro foi concluída aquando da sua reabilitação:
"Obviamente, olhando para o segmento ferroviário, a desminagem foi concluída aquando da reabilitação do eixo ferroviário. Ou seja, desde a província de Benguela até à ponte sobre o rio Luau, a desminagem foi feita, a reabilitação também, e o comboio circula normalmente”, afirmou.
No entanto, apesar da circulação de comboios no eixo Lobito–Luau, gerido pela Lobito Atlantic Railway, há vastas áreas nos arredores que permanecem contaminadas, colocando vidas em risco diariamente.
A The HALO Trust reconhece os progressos, mas alerta:
"Há muito trabalho pela frente”, admite a organização.
Segundo a ONG, 192 dos cerca de 200 campos minados localizam-se em municípios das províncias do Bié e do Moxico.
"A presença desses campos ameaça dificultar os esforços para reparar a ferrovia existente, desenvolver estradas paralelas e negócios, além de colocar em risco os que vivem ou trabalham nas proximidades”, lê-se num comunicado da HALO Trust.
Apoio internacional e metas
De acordo com a ANAM, já foram destruídas mais de 43 mil minas antipessoais, 2.460 minas antitanque e 235 mil engenhos explosivos não detonados, numa área que ultrapassa os 74 milhões de metros quadrados.
Esses trabalhos estão a ser realizados por várias entidades, incluindo as Forças Armadas Angolanas, o Instituto Nacional de Desminagem, a The HALO Trust, e operadores como a MAG, a APN e empresas privadas.
No total nacional, ainda existem 975 áreas por desminar, segundo dados da ANAM.
O brigadeiro Sapalo reforçou a importância de financiamento contínuo:
"De acordo com o estudo feito, com base nas áreas minadas conhecidas, estamos a falar de 240 milhões de dólares norte-americanos. Este é um esforço que o Governo, certamente, vai integrar no Orçamento Geral do Estado (...). E continuaremos também a mobilizar recursos internacionais”, disse.
Diplomacia e novos compromissos
No início de abril, uma delegação de embaixadores ocidentais visitou as infraestruturas ao longo do Corredor do Lobito. Durante a visita, o embaixador do Reino Unido em Angola anunciou um novo financiamento de dois milhões de libras (cerca de 2,34 milhões de euros) para apoiar os trabalhos de desminagem.
O encarregado de negócios dos Estados Unidos, James Story, elogiou os esforços das autoridades angolanas:
"Estamos a falar sobre prosperidade ou promovendo aprosperidade no país. E não podemos ter essa prosperidade em Angola se ainda existirem campos minados”, sublinhou.
"Por isso, vamos trabalhar juntos com o governo de Angola, com o povo angolano, com a HALO Trust e outros parceiros, enquanto comunidade internacional, para apoiar o país a livrar-se deste problema”, concluiu.
A embaixadora da União Europeia, Rosário Bento Pais, também reforçou o compromisso europeu:
"Continuaremos a apoiar Angola nesse processo de se tornar um país livre de minas e, sobretudo, nesta área do Corredor do Lobito, para que haja desenvolvimento sustentável. Assim, o setor privado poderá investir com segurança e as populações estarão protegidas deste grave problema: as minas.”