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DesastresCabo Verde

Cabo Verde: Moradores relatam prejuízos após tempestade

12 de agosto de 2025

Pelo menos oito pessoas morreram em São Vicente devido às chuvas intensas que caíram na madrugada de segunda-feira, havendo ainda desaparecidos e registo de danos em vias públicas, habitações e viaturas.

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Tempestade em São Vicente, Cabo Verde, agosto de 2025
O Governo cabo-verdiano declarou situação de calamidade nas ilhas de São Vicente e Santo Antão e dois dias de luto nacionalFoto: Nuno Ferreira

Entre terreno enlameado, ruas submersas e prejuízos, moradores e comerciantes da ilha de São Vicente, em Cabo Verde, relataram surpresa e consternação perante as chuvas que, durante a madrugada de segunda-feira, causaram pelo menos oito mortos e deixaram vários desaparecidos.

"Foi uma coisa imprevisível. Ligaram-me por volta das 03:00 para vir à Praça Estrela [no centro do Mindelo] ver o meu carro que podia ser arrastado para o mar. Havia trovoada, chuva intensa, e não vim logo porque era arriscado", conta à agência Lusa Amadeu Rocha, 61 anos, morador e comerciante no Mindelo.

Uma hora depois, Amadeu conseguiu chegar ao local, mas o seu veículo pesado já tinha sido arrastado pelas águas, até chegar ao mar, cerca de 200 metros da Praça Estrela, centro histórico da cidade e uma das zonas mais afetadas. "Um amigo e as autoridades ajudaram-me a tirá-lo", afirma ainda.

Tempestade em São Vicente, Cabo Verde, agosto de 2025
Moradores de São Vicente relatam que a madrugada de segunda-feira "foi inédita"Foto: Nuno Ferreira

O veículo, mesmo recuperado, ficou com o motor, para-brisas e os bancos destruídos. Além disso, motores de carros e bicicletas que vendia diariamente também foram levados pelo mar. Conseguiu resgatar alguns, mas calcula já um prejuízo de cerca de um milhão de escudos (9.069 euros).

"O dano é enorme. É o carro que usava todos os dias para vender. Desde a madrugada estou aqui, nem sei como está a minha casa. As mercadorias ficam no carro e não consigo levá-las para casa porque são pesadas", disse, pedindo apoio do Governo. "Pelo menos sete viaturas foram parar ao mar. Perdeu-se tudo. Nem sei quando vou esquecer isto", acrescenta, com lágrimas nos olhos.

Destruição generalizada

Alcir Lima, 70 anos, vive há 64 na Praça Estrela e relata que a "madrugada foi inédita".

"Deitei-me normalmente, começou a chover, depois veio muita trovoada e as águas começaram a entrar em casa, subiram até 1,20 metros. Com a ajuda dos rapazes consegui tirar a lama, mas ainda há muita lama nas ruas. De manhã, havia sete carros na praça. É a primeira vez que vejo algo assim na ilha", conta.

Tempestade em São Vicente, Cabo Verde, agosto de 2025
"A nossa ilha está destruída. É a primeira vez que vejo uma chuva destas", conta Patrícia AlmeidaFoto: Nuno Ferreira

Na mesma zona, no principal mercado do Mindelo, onde trabalhavam quase 200 vendedores, a destruição foi generalizada.

Manuel Ramos, de 62 anos, vendia telemóveis e outros artigos eletrónicos, mas "perdeu tudo". 

"O prejuízo ultrapassa um milhão de escudos (9.069 euros)", lamenta. 

Para Patrícia Almeida, 31 anos, o sentimento é de tristeza, apesar de a sua família estar a salvo. "A nossa ilha está destruída. É a primeira vez que vejo uma chuva destas. Os meus sentimentos para as famílias das vítimas. Espero que as autoridades ajudem quem mais precisa, com casas, roupas, tudo o que for necessário", disse ainda.

António Martins, morador de 64 anos, relata que a chuva na ilha sempre ocorreu na normalidade. "Nunca vi um relâmpago tão forte assim, sinto-me muito triste, porque várias pessoas estão desalojadas, comerciantes que vivem aqui, estão todos afetados. Mas estamos a ajudar uns aos outros a limpar as águas. Algo tem que ser feito. Ficámos com medo porque há mais previsões de chuvas", acrescenta.

O taxista Balduíno Gomes, 49 anos, conta que há poucos táxis a circular e que alguns colegas estão a usar carrinhas de caixa aberta para transportar pessoas. "Nunca vi nada assim", resume.

Tempestade em São Vicente, Cabo Verde, agosto de 2025
Há ainda desaparecidos e registo de danos em vias públicas, habitações e viaturasFoto: Sokols

"Deixei o meu filho sozinho"

O impacto da tempestade também se sentiu no Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na cidade da Praia, onde viajantes para São Vicente mostravam preocupação e tristeza.

Fátima Pires, 50 anos, regressava de urgência: "Deixei o meu filho de 20 anos sozinho em casa no domingo e agora tenho que voltar. Passei horas no aeroporto à espera de lugar porque os voos estavam cheios".

Benito Lopes, 46 anos, também tentava voltar à ilha. "Um vizinho perdeu uma criança de sete anos. As pessoas precisam de apoio psicológico e material para conseguir estabilizar a vida", afirma.

Pelo menos oito pessoas morreram em São Vicente devido às chuvas intensas que caíram esta madrugada, havendo ainda desaparecidos e registo de danos em vias públicas, habitações e viaturas.

O Governo cabo-verdiano declarou situação de calamidade nas ilhas de São Vicente e Santo Antão e dois dias de luto nacional.

O Governo português já expressou "profundo pesar pelas vítimas da tempestade", apresentando "condolências às famílias, ao povo irmão cabo-verdiano e às autoridades, manifestando todas as formas de solidariedade".

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Lusa Agência de notícias