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Cabo Delgado: "Única solução é criar a paz positiva"

19 de agosto de 2025

À DW, historiador moçambicano defende que, ao contrário de tentar resolver as coisas à paulada, solução do conflito em Cabo Delgado está na paz positiva, com diálogo e sem balas.

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Cabo Delgado: "Única solução é criar a paz positiva"
Foto: Estácio Valoi/DW

Em Moçambique, o Presidente da República, Daniel Chapo, afirma que o seu Governo está empenhado no reforço da capacidade militar para responder de forma mais eficiente ao terrorismo jihadista na província de Cabo Delgado, no norte do país.

A integridade territorial de Moçambique constitui uma das prioridades do Governo moçambicano, afirmou ainda o chefe de Estado moçambicano.

Em entrevista à DW, o professor moçambicano Yussuf Adam defende que não é só com balas que se resolve um conflito como o de Cabo Delgado, mas sim, e sobretudo, "através do diálogo".

O historiador considera que o preço da presença militar na região é "extremamente elevado".

DW África: Que soluções para combater o recrudescimento da violência em Cabo Delgado?

Yussuf Adam (YA): Eu sou um historiador e trabalho com questões da paz. Nós nessa área normalmente distinguimos entre a paz positiva e a paz negativa. A paz negativa é a paz podre. É aquela em que se para a guerra, mas as condições existem para continuamente a guerra reacender-se. A paz positiva é aquela em que sim, há conflito, já divergências, mas não há mortes, não há balas no ar. Então eu penso que nós, usando esses dois conceitos e essa abordagem dos estudos de paz, verificamos que há uma solução. E essa única solução é criar a paz positiva. E a paz positiva, normalmente, nunca se cria a bala, não é? Quer dizer, é preciso conversar, é preciso estudar a situação.

DW África: E acha que o Presidente Daniel Chapo tem em mente essa sua abordagem? Qual é o novo caminho que ele pretende agora perseguir no combate à insurgência em Cabo Delgado?

YA: Qual é o novo caminho que é preciso ter? É conversar. Realmente é preciso conversar com toda a gente interessada, sobretudo com a população local. O que eu tenho visto é que há uma disponibilidade das pessoas contribuírem para a paz, pararem a guerra e a mortandade, a destruição de bens. E cada dia mais, verificamos uma série de conversações informais. Quer dizer, os camionistas que circulam na estrada Silva Macua até Mocímboa. E também as pessoas falam que pagam X quando são raptadas, há negociações. Então, significa que temos que aproveitar essas oportunidades. E o facto de as pessoas estarem cansadas da guerra, estarem fartas de terem correr de um lado para o outro. E o que é preciso é conversar.

Como então? Luta antiterrorismo em Cabo Delgado corre bem?

DW África: Mas, professor Yusuf, quando Daniel Chapo diz que quer mais eficácia para combater a insurgência, ele quer dizer que quer mais balas, mais força para as Forças Armadas. Essa receita não tem dado muitos e bons frutos, não é assim?

YA: Não, estamos de acordo. Mais balas não resolvem o problema. Claro que é preciso ter um Exército nosso capaz de fazer coisas. Aliás, o Exército moçambicano, as FADM [Forças Armadas de Defesa de Moçambique], mostraram o seu valor. Normalmente, quando há um bom comandante, uma boa equipa de chefes militares na região, a situação melhora. Mas a um preço extremamente elevado. Temos a presença do Ruanda, tivemos a presença da SAMIM [Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique]. Isso é sol de pouca dura.

DW África: E o professor Yussuf Adam que está aí mais perto, tem notado da parte do Presidente Daniel Chapo mais abertura para o diálogo ou não há diferença nesse aspeto em relação aos seus antecessores?

YA: Bom, a impressão que eu tenho é que o chefe de Estado atual – que está no poder há pouco tempo, chegou ao poder de uma forma ainda bastante contestada - apresenta, digamos, uma certa força, de tentar resolver as coisas à paulada, que é uma tradição aqui no meu país. Mas eu penso que é uma pessoa aberta ao diálogo. E esse tipo de declarações também faz parte deste diálogo, que quase sempre, é público, é um diálogo de surdos, não é?

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