Cabo Delgado: "Situação alarmante" nos campos de deslocados
1 de agosto de 2025A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, voltou a ser palco de violência armada após uma série de ataques perpetrados por grupos armados na noite de 23 de julho. Cinco aldeias no sul do distrito de Chiúre foram invadidas, resultando na destruição de edifícios públicos, incluindo escolas e unidades de saúde.
Os ataques provocaram um novo êxodo de civis, forçando milhares a abandonarem as suas casas em busca de segurança. Trata-se da maior movimentação populacional forçada desde o ataque à cidade de Macomia, em maio de 2024.
Diante da gravidade da situação, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) iniciou, no final de julho, uma resposta de emergência nos bairros de Namisir e Micone, onde foram instalados dois campos temporários para acolher os deslocados. A MSF informa que vai apoiar os serviços locais de saúde com cuidados primários, apoio à saúde mental, abastecimento de água potável e melhoria das infraestruturas sanitárias.
"A província de Cabo Delgado está a testemunhar a maior onda de deslocamento interno dos últimos meses", afirmou Ana Isabel Rua Jaramillo, coordenadora médica da MSF em Moçambique, em comunicado. "Famílias inteiras com crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas idosas com doenças crónicas caminharam durante horas, em meio ao medo, e agora estão refugiadas em condições extremamente precárias", acrescentou.
Aumento de doenças
A coordenadora médica alertou ainda para a deterioração das condições nos campos: "A situação é alarmante", sublinhou, indicando que as equipas médicas estão a registar um aumento nos casos de doenças respiratórias, infeções cutâneas e patologias transmitidas pela água — problemas comuns em contextos onde o acesso a cuidados de saúde e a condições básicas de higiene é severamente limitado.
A recente escalada de ataques evidencia a contínua instabilidade da região e levanta sérias preocupações quanto à capacidade de resposta humanitária perante uma crise que se agrava a cada novo episódio de violência.
"Essa escalada de um conflito que já se prolonga há quase oito anos compromete gravemente a continuidade dos cuidados de saúde para milhares de pessoas", reforçou Ana Isabel Rua Jaramillo.
Apelo a cessar-fogo
A MSF renovou o apelo aos grupos armados para que cessem os ataques a profissionais de saúdee trabalhadores humanitários, e respeitem a missão médica. A organização pede também uma resposta coordenada das autoridades e da comunidade internacional para enfrentar as crescentes necessidades das populações deslocadas, que continuam a viver num clima de insegurança e incerteza.
O Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (INGD) também aponta um crescimento do número de deslocados internos como consequência dos ataques nos distritos de Muidumbe (norte), Ancuabe (centro) e Chiúre (sul de Cabo Delgado).
O delegado provincial do INGD, Marques Naba, afirmou em entrevista à Televisão de Moçambique (TVM) que, para aliviar o sofrimento das populações que abandonaram as suas casas sem quaisquer pertences, o Governo criou centros de acolhimento transitórios.
Com o apoio de agências humanitárias, "estão a ser distribuídos alimentos, kits de abrigo e outros bens essenciais às famílias afetadas", concluiu.