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Cabo Delgado pós-eleições: Novos ataques e desaparecimentos

DW (Deutsche Welle)
5 de fevereiro de 2025

Após as eleições de 9 de outubro, o ressurgimento de ataques terroristas e o desaparecimentos de figuras ligadas à oposição preocupam a sociedade civil na província de Cabo Delgado.

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Cabo Delgado, Moçambique
Ressurgimento de ataques e desaparecimentos de figuras ligadas à oposição preocupam sociedade civil em Cabo DelgadoFoto: DW

Os terroristas que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado, em Moçambique, terão usado o período eleitoral e pós-eleitoral para se reogruparem e reposicionarem em locais onde haviam sido desmantelados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), alertou o pesquisador Tomás Queface da plataforma de pesquisa Cabo Ligado, num painel sobre o atual clima de segurança na região promovido pelo Observatório do Meio Rural (OMR), na terça-feira (04.02).

"Os insurgentes não interferiram no processo eleitoral desde a campanha até à votação, mas exploraram a situação de instabilidade no país para se reorganizarem face às grandes perdas que incorreram desde o fim do primeiro semestre de 2024", explicou.

Ainda de acordo com o pesquisador do Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), o grupo armado concentrou as suas operações desde outubro passado ao longo da Estrada nacional 380, onde tem realizado saques para fins de reabastecimento em aldeias de Mudumbe, Meluco, Macomia, acrescenta

"As suas ações continuam no eixo Macomia, Mocímboa da Praia, Meluco. Isso pode sugerir que estejam a preparar bases nesses distritos, uma vez que foram praticamente desalojados na costa de Macomia", diz ainda Queface.

Perseguição de elementos ligados à oposição

A par do conflito armado protagonizado pelos terroristas, Cabo Delgado também tem experienciado da tensão pós-eleitoral no país.

João Feijó | Observatório do Meio Rural
O pesquisador do Observatório do Meio Rural, João Feijó, fala de violação dos direitos humanos em Cabo DelgadoFoto: DW

Manifestações a exigir a reposição da "verdade eleitoral", contra os resultados anunciados pelas autoridades eleitorais, foram reprimidas pelas autoridades policiais e resultaram em diversos feridos e mortos.

O jornalista Armando Nhantumbo, que igualmente interveio no painel sobre o clima de segurança em Cabo Delgado, denunciou ainda a perseguição de elementos ligados à oposição.

"Há esquadrões de morte que estão a caçar apoiantes de Venâncio Mondlane ou do PODEMOS", disse. 

Entre os casos citados consta o caso do jornalista Arlindo Chissale que, nos últimos tempos esteve fortemente ligado ao apoio ao candidato derrotado do PODEMOS, Venâncio Mondlane, e está desaparecido há quase um mês.

O pesquisador do Observatório do Meio Rural, João Feijó, fala de violação dos direitos humanos em Cabo Delgado.

"Há dezenas ou centenas de indivíduos que foram assassinados por motivos políticos, algo que não só é humanitariamente chocante como viola os mais basilares princípios democráticos. Mas também é algo que é uma resposta 'tonta' por parte do Governo, uma vez que simplesmente está a atiçar e a alimentar um ressentimento de Estado contra a população", sublinha Feijó.

Sobre a alegada repressão estatal, Hizidine Achá, do canal televisivo STV, lembrou às Forças de Defesa e Segurança que o povo é o melhor colaborador para ajudar na reconquista da estabilidade:

"Essa questão de perseguição, desaparecimento de pessoas, está a criar um mal-estar em muitas famílias. Porque é verdade que uma e outra pessoa das que desapareceram ou foram detidas façam parte dos grupos armados ou tenha cometido crime, mas há muitas pessoas que são consideradas inocentes e isto está a criar uma certa raiva no seio das famílias", lamenta.

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