Cabo Delgado: Populares em fuga devido a ataques violentos
24 de julho de 2025Pelo menos seis pessoas foram decapitadas por supostos rebeldes na comunidade de Natócua, no distrito de Ancuabe, na província moçambicana de Cabo Delgado. Fontes locais disseram hoje à agência portuguesa Lusa que as decapitações aconteceram na segunda-feiraquando os camponeses se encontravam nos seus campos agrícolas.
"Mataram seis pessoas, todas eram camponesas", confirmou um popular a partir de Ancuabe. Os corpos terão sido localizados por militares ruandeses e membros da Força Local, antigos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), após uma denúncia da população.
"Graças ao Ruanda e à nossa Força Local que os corpos foram encontrados", referiu outro popular, acrescentando que, além de Natócua, os rebeldes terão também invadido, no domingo, a comunidade de Nanduli, criando pânico. "Nanduli também foi alvo dos rebeldes", adiantou outra das fontes à Lusa.
"Os terroristas estão a atacar”
Por sua vez, populares de duas localidades do distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, relataram novos ataques, por parte de supostos grupos insurgentes, levando à fuga da população. "Os terroristas estão a atacar", disse uma fonte local, a partir da vila sede de Chiúre, após fugir a pé, na sequência dos alegados ataques ocorridos hoje (24.07) nas comunidades de Chiúre Velho e Mazeze.
Fontes ouvidas pela Lusa relataram que o ataque terá ocorrido em simultâneo nas duas comunidades, com o grupo de insurgentes a efetuar disparos de forma indiscriminada, o que levou à fuga de populares que se encontravam em campos agrícolas. "Ninguém ficou lá, os rebeldes continuam nas aldeias", disse a referida fonte, dado conta também de incêndios em algumas dezenas de casas, maioritariamente de construção precária.
Localizada a cerca de 140 quilómetros da cidade de Pemba, capital provincial, Chiúre é um dos distritos alvos dos rebeldes.
As novas movimentações de extremistas no norte de Moçambique incluem Niassa, província vizinha de Cabo Delgado, onde, desde a sua eclosão em 29 de abril, provocaram pelo menos duas mortes: dois guardas-florestais decapitados.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior. Os números são de um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.