Cabo Delgado: Persistência da insegurança atrasa normalidade
17 de junho de 2025A instabilidade provocada por grupos armados na província moçambicana de Cabo Delgado continua a dominar o quotidiano de milhares de residentes, mergulhados num ciclo de insegurança que bloqueia a possibilidade de desenvolvimento local.
Em algumas aldeias dos distritos de Muidumbe e Macomia, a população vive em fuga constante. Os relatos recolhidos na aldeia de Chitunda, no posto administrativo de Miangaleua, revelam uma rotina marcada pelo medo e pela incerteza.
Medo constante nas aldeias
João, residente em Chitunda, descreve uma aparente normalidade que esconde um receio permanente. "Nesses dias, estamos a ficar mais ou menos. Mas os malfeitores não demoram de chegar nas aldeias próximas. E quando eles chegam, nós fugimos sempre. Só regressamos depois de os terroristas abandonarem," relata.
Abasse Adrename, também morador da região, vive entre a aldeia e o mato. "A situação não está boa por aqui. Ora dormir no mato, ora nas aldeias. Num mês ficamos bem, mas a qualquer instante temos de estar preparados para fugir. Eles vêm às escondidas, disparam e, quando fugimos, roubam os nossos alimentos para consumirem no mato," descreve.
A insegurança tem travado qualquer esforço de reabilitação comunitária. Abasse sobrevive com uma pequena banca de venda de produtos básicos. "Não quero fugir, quero ficar aqui mesmo na terra onde nasci. Não posso fugir para Nampula ou outro lugar porque vou sofrer," lamenta.
Tropas reagem com firmeza
No terreno, as autoridades apostam na ação combativa levada a cabo pelas tropas nacionais, do Ruanda e da vizinha Tanzânia e pela Força Local, criada em 2021 e composta maioritariamente por antigos combatentes da luta de libertação nacional.
Os membros da Força Local têm se notabilizado no auxílio das Forças de Defesa e Segurança (FDS) na proteção das comunidades mais vulneráveis.
Durante uma cerimónia oficial em Mueda, o comandante da Força Local, John Issa, destacou o sucesso das mais recentes operações no distrito de Muidumbe. "No dia 7 de junho vinham terroristas para experimentar, para ver quem somos nós. Camarada comandante em chefe, batemos-lhes muito bem mesmo," garantiu.
O administrador de Muidumbe, João Bosco, confirmou recentemente a morte de 18 supostos terroristas na aldeia de Magaia, abatidos pela Força Local.
População espera fim do conflito
Apesar da ação militar, os residentes insistem que apenas o fim do conflito poderá garantir o regresso total à normalidade. Em Macomia, onde os ataques têm sido esporádicos em algumas comunidades, o cansaço e o medo são sentimentos partilhados. "Nós ficamos mal quando ouvimos que os terroristas entraram em determinada aldeia. Não gostamos de ouvir que estão a atacar um sítio," afirma um morador.
Na segunda-feira (16.06), o Presidente moçambicano Daniel Chapo voltou a sublinhar, durante uma visita ao distrito de Mueda, a importância da Força Local no combate ao terrorismo. Chapo reiterou ainda que a estabilização da província de Cabo Delgado continua a ser uma prioridade do seu Governo.
Desde 2017, esta região do norte de Moçambique tem sido palco de um conflito protagonizado por grupos insurgentes.