"Cabo Delgado está a caminho da estabilidade definitiva"
17 de maio de 2025"Estamos a ter cada vez mais um bom ambiente na província de Cabo Delgado. Um bom ambiente mesmo (...), com esse trabalho que estão a realizar as nossas forças. A esses intrusos já lhes foi dada a oportunidade para se entregarem nas comunidades, nas famílias, se forem moçambicanos", afirmou o governador durante o lançamento da campanha de comercialização agrária de 2025, hoje, em Metoro, distrito de Ancuabe.
"Hoje estamos a conseguir vir aqui até Ancuabe porque há estabilidade", sublinhou Valige Tauabo, destacando o papel das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no terreno, insistindo na garantia de integração dos insurgentes que se renderem e agirem de "forma honesta".
Tauabo prevê para "ainda ao longo deste ano", em Cabo Delgado, "uma estabilidade definitiva". "As FDS precisam de nós. Porque esses que estão a criar esta situação toda na província convivem connosco, são nossos filhos, são nossos sobrinhos, são nossos filhos", apelou, dirigindo-se à população.
O investigador moçambicano João Feijó considerou esta semana que os grupos armados que atuam no norte do país "reorganizaram-se" e apostam agora em ataques em zonas com fraca proteção militar, procurando criar impacto internacional.
"O que a insurgência fez foi evitar a confrontação do inimigo deles [forças militares] onde é mais forte, que é precisamente onde estão [as tropas] ruandesas, em Palma e Mocímboa da Praia, e reorganizar-se onde o inimigo é mais fraco, que são as Forças Armadas de Defesa de Moçambique [FADM]", declarou João Feijó, pesquisador do Observatório do Meio Rural (OMR).
O investigador, que conta com vários trabalhos sobre a província de Cabo Delgado, falava na sexta-feira, à margem de um Congresso de Organizações da Sociedade Civil, em Maputo, quando há um recrudescimento destes ataques de grupos associados ao Estado Islâmico.
Mortes
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos na província de Cabo Delgado, um aumento de 36% face ao ano anterior, indicam dados divulgados recentemente pelo Centro de Estudos Estratégicos de África, uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano que analisa conflitos em África.
Além de Cabo Delgado, palco destes ataques e movimentação terrorista desde 2017, a vizinha província de Niassa também já foi palco em abril de um ataque de membros destes grupos, que decapitaram dois guardas-florestais.
Admitiu que atualmente há uma estabilidade "num raio de 50 quilómetros" do distrito de Afungi, impulsionado pela proteção das tropas ruandesas e a implantação do megaprojeto de Gás Natural Liquefeito (GNL) da TotalEnergies, que anunciou a retoma do projeto em meados deste ano.
"A Total criou ali um projeto de contra insurgência, distribuindo recursos pela população, comprando a produção da população, dando empregos para atenuar um pouco o desemprego e monitorizando aquela população. O Ruanda fala as línguas locais, trata bem as comunidades, são disciplinados, conseguiram convencer e ter uma boa relação com a população e são efetivos no controle militar da insurgência", explicou.
O pesquisador assinalou que os grupos armados operam atualmente junto ao vale do distrito de Muedumbe, "onde se abastecem de alimentos" enquanto fazem incursões para Meluco e agora para a província de Niassa, vizinha de Cabo Delgado: "Desta forma conseguem desestabilizar e obrigar o exército moçambicano a descentralizar-se".
"Os insurgentes estão preparados para uma guerra de longo curso, estão preparados para morrer em combate, é um ato heroico. Esta é uma vantagem enorme em relação a nossa tropa, que temos que demonstrar que controlamos o território e que está tudo sob controlo mas, os nossos miúdos não percebem o que estão ali a fazer, não têm a mesma motivação", apontou, destacando que os recentes ataques visam, sobretudo, causar um "pânico internacional", por acontecerem sobretudo em áreas onde estão investimentos ambientais estrangeiros e turistas.