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Cabo Delgado: Deslocados à fome denunciam casos de fraude

29 de fevereiro de 2024

Deslocados lamentam falta de condições de sobrevivência e denunciam fraude na distribuição de donativos em Nampula. Autoridades reconhecem problemas e prometem ter soluções em curso.

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Deslocados em Namapa-Erati, Nampula
A nova onda de ataques armados já fez mais de 67 mil deslocados internosFoto: Sitoi Lutxeque/DW

A fome está a castigar os deslocados dos ataques terroristas de Cabo Delgado que foram acolhidos em três centros em Namapa-Erati, na província vizinha de Nampula. 

Terlinda Eurico fugiu do ataque na aldeia de Namilala, em Chiùre, na companhia do seu marido e quatro filhos. Sem muitas opções, seguiu para Erati, onde está acomodada no centro de Nacucha desde a semana passada.

"Desde que chegámos aqui ainda não nos deram nada. Nem manta, nem balde e nem sequer rede mosquiteira", lamenta esta deslocada. "Quando fomos alistados para começarmos a receber alimentação, [esse processo] foi interrompido porque chegava uma visita e ainda não [nos] deram nada", referiu à DW.

Distribuição de ajuda alimentar em Namapa-Erati, Nampula
Distribuição de ajuda alimentar pelos deslocados oriundos de Cabo Delgado em Namapa-Erati, em NampulaFoto: Sitoi Lutxeque/DW

Enquanto não recebe os donativos, Terlinda Eurico e os seus familiares racionam os alimentos que conseguiram reunir durante a fuga. 

Fraude na distribuição de ajuda 

Cassimo Abudo fugiu com a sua família da localidade de Ocua, em Chiùre. Embora em pequenas quantidades, admite receber donativos, mas denuncia que há residentes de Erati a fazerem-se passar por deslocados para beneficiar das doações. 

"A pouco e pouco, as pessoas vão recebendo os donativos, mas há reclamações; muitos que recebem são de Namapa-Erati", garantiu.

Nem todos os deslocados vivem nos centros de acomodação. Há um número não especificado de pessoas que ficaram em residências locais. Um deles é Mário Calisto. Ele vive numa residência composta por 48 pessoas, na sua maioria forasteiros, e explica que a vida "não está fácil".

"Os donos das casas [famílias de acolhimento] não estão contemplados e eles dizem que ficam mal sem condições", disse Mário Calisto, que frisou que a situação vivida localmente está a aumentar o desconforto na região.

Luísa Meque, presidente do Instituto Nacional de Redução de Desastres (INGD), diz que as autoridades estão cientes dos problemas, sobretudo aqueles que estão relacionados com a insuficiência de produtos alimentares, mas assegura que o Executivo e parceiros continuarão a envidar esforços para suprir os mesmos

Muitos deslocados estão a pernoitar em escolas de Nampula
Muitos deslocados estão a pernoitar em escolas de NampulaFoto: Sitoi Lutxeque/DW

"Sabemos que nem todos terão no mesmo momento o apoio que estamos a trazer", comentou Luísa Meque, assegurando em seguida que "só vão receber apoio as pessoas que não são daqui, [ou seja], aquelas que deixaram tudo nas suas casas para vir para aqui".

Deslocados continuam a aumentar

O distrito de Erati recebe novos deslocados todos os dias. A maioria é atendida em três centros de acomodação, nomeadamente Muanona, Nacucha e 21 de Abril, que já acomodam pelo menos 33 mil pessoas no total. 

Estes centros funcionam em seis escolas e num centro de formação de professores, colocando em causa mais de 13 mil alunos que há uma semana não assistem às aulas. 

As autoridades governamentais estão a preparar um local para a construção de um centro transitório. 

Desde janeiro, a nova onda de ataques armados já fez mais de 67 mil deslocados internos, segundo dados oficiais.

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Sitoi Lutxeque Correspondente da DW África em Nampula