Cabo Delgado: 98% dos deslocados sem apoio em saúde mental
22 de agosto de 2025A crise humanitária em Cabo Delgado expõe falhas graves no atendimento psicológico: a ausência de psicólogos e psiquiatras deixa milhares sem tratamento adequado.
Um relatório de monitorização aos centros de deslocados em Chiúre, Cabo Delgado, datado de 20 de agosto de 2025, revela uma situação alarmante: 98% das pessoas em sofrimento psicológico não recebem qualquer apoio especializado. Estima-se que cerca de 35 mil deslocados vivam com sintomas de depressão, ansiedade ou trauma severo, mas apenas 652 consultas especializadas foram realizadas até ao momento, todas sem acompanhamento adequado devido à escassez de profissionais.
A cobertura actual, de apenas 1,87%, é considerada "indefensável" pelos padrões humanitários internacionais. Entre as principais lacunas identificadas estão a inexistência de psicólogos e psiquiatras, mecanismos de referenciação frágeis e a sobrecarga das poucas unidades sanitárias em funcionamento. Casos graves, como psicose, epilepsia e trauma complexo, permanecem sem diagnóstico nem tratamento, agravando-se silenciosamente.
Saúde mental esquecida
O relatório alerta ainda para o impacto direto sobre profissionais da linha da frente, enfermeiros, professores e agentes de segurança, que também vivenciam situações traumáticas sem qualquer apoio, correndo elevado risco de desenvolver perturbações mentais incapacitantes.
Entre as recomendações urgentes estão a mobilização imediata de psicólogos e psiquiatras, formação intensiva em primeiros socorros psicológicos e a integração do apoio psicossocial com os mecanismos de proteção, sobretudo para crianças desacompanhadas.
A ausência de uma resposta imediata poderá agravar severamente a crise humanitária e de saúde mental no distrito de Chiúre, comprometendo tanto a recuperação das comunidades deslocadas como a resiliência da população local.