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Bissau: "Geraldo Martins evitou apadrinhar ilegalidades"

20 de dezembro de 2023

Analista político guineense considera que a saída de Geraldo Martins do cargo de primeiro-ministro é uma boa decisão para evitar apadrinhar "ilegalidades" do Presidente da República.

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Geraldo Martins, ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau
Foto: privat

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, exonerou esta quarta-feira (20.12) o primeiro-ministro Geraldo Martins, que tinha sido reconduzido no cargo a 13 de dezembro, depois da dissolução do Parlamento.

As funções de chefe do Executivo passam agora a ser desempenhadas por Rui Duarte Barros, um dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Ouvido pela DW África, o analista Diamantino Lopes admite que a iniciativa de renunciar ao cargo tenha partido de Geraldo Martins. Diamantino Lopes acredita que o agora ex-primeiro-ministro se tenha querido distanciar do que "não está certo".

DW África: Como explica essa exoneração de Geraldo Martins do cargo de primeiro-ministro, quando não passa mais de uma semana desde a sua recondução?

Diamantino Lopes (DL): Geraldo Martins compreendeu que há uma insustentabilidade da relação dele com o Presidente...

DW África: Então, esta demissão pode ter sido da iniciativa própria de Geraldo Martins?

DL: Dá para perceber a insustentabilidade política, talvez a perspetiva de Geraldo Martins não coincida com a intenção do Presidente da República. Então, quando é assim, o que faz sentido é recuar.

Guiné-Bissau | Umaro Sissoco Embaló | Foto de arquivo
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, nomeou para o cargo de chefe do Governo Rui Duarte BarrosFoto: Phill Magakoe/AFP

Mas valeu a pena a tentativa. Errado era não tentar encontrar uma solução para o problema, mas chegou a um ponto de insustentabilidade e recuou. Também compreendemos essa posição.

DW África: Ou seja, no seu ponto de vista, Geraldo Martins, que é militante do PAIGC, partido que considera a dissolução do Parlamento ilegal, terá decidido recuar nesse projeto de Umaro Sissoco Embaló, uma vez que, ao aceitar prosseguir, estaria a "apadrinhar" essa ilegalidade?  

DL: Geraldo Martins foi o primeiro-ministro indicado pela coligação PAI - Terra Ranka, é o primeiro vice-presidente do PAIGC, e nessa situação de tumulto político seria uma vantagem tê-lo a ele como elo entre as partes.

Portanto, tudo indica que ele compreendeu que não seria exatamente assim. Além disso, estão a acontecer eventos que não ajudam a essa investida política por parte dele. É cumplicidade demais com o que não está certo. Então, faz sentido abandonar.

DW África: E quem é Rui Duarte Barros, o novo primeiro-ministro?

DL: Em 2012, já foi ministro da Economia. É o atual presidente do Conselho de Administração da Assembleia Nacional Popular. A sua aparição na lista dos deputados do PAIGC surpreendeu-me bastante.

DW África: Rui Duarte Barros é militante do PAIGC. Como será a relação com Umaro Sissoco Embaló?

DL: Não sabemos se ele vai conseguir coabitar com o Presidente da República. Também não sabemos se ele vai seguir em frente com essa nomeação, porque ainda não ouvimos nada dele.

Sociólogo guineense Diamantino Lopes
Diamantino Lopes: "Talvez a perspetiva de Geraldo Martins não coincida com a intenção do Presidente da República"Foto: Iancuba Dansó/DW

DW África: Acha que já estão lançadas as bases para que, no futuro, se possa alcançar a estabilidade política na Guiné-Bissau, já com a indicação de um novo nome para ocupar o cargo de primeiro-ministro?

DL: Nos próximos tempos, não podemos esperar a estabilidade política e governativa no país, considerando o facto de que houve uma violação da Constituição da República no que concerne à dissolução do Parlamento. E tudo indica que haverá reivindicações para repor a ordem constitucional.

Há dúvidas também se o Governo vai prevalecer. Os governos não constitucionais conseguem ter mais tempo de vida do que os governos constitucionais, mas esperamos uma luta política nos próximos tempos.

Delfim Anacleto Correspondente da DW África em Moçambique