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PolíticaAlemanha

Auschwitz era um "aparato industrial para matar pessoas"

Christoph Strack
26 de janeiro de 2025

Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração da era nazi, foi libertado há 80 anos pelos soldados do "exército vermelho". De 1941 a 1945, mais de um milhão de pessoas foram aqui assassinadas.

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Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração da era nazi, foi libertado há 70 anos.
Torres de vigia no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, que é atualmente um memorialFoto: Frank Schumann/zb/picture alliance

A pequena localidade de Oświęcim, com cerca de 10.000 habitantes, faz parte da Polónia, que – na sequência da segunda guerra mundial, iniciada pelo regime alemão nazi, fora atacada militarmente e ocupada, pela Wehrmacht alemã, em 1939. Oświęcim foi pois anexada e renomeada para Auschwitz. A partir de 1941 os nazis construíram, naquela região, o maior campo de extermínio alemão, o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.

Até ao final de janeiro de 1945, de acordo com dados confiáveis, pelo menos 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas, principalmente judeus, mas também sinti e roma, e membros de outras minorias. Porquê aqui? Porquê Auschwitz?

Holocausto: Sobrevivente partilha a sua história com jovens

Segundo Christoph Heubner, vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz (IAK),  "o local foi escolhido sob o aspecto de estar logisticamente no centro da Europa e acessível por comboios de deportação. Essas também foram considerações logísticas".

Quando a Alemanha de Hitler passou a ocupar militarmente grandes partes da Europa, passou também a perseguir os judeus que viviam nos territórios ocupados. O plano era exterminar todos os judeus que eram apontados como responsáveis por todos os males.

Para isso, houve uma "reunião" em 20 de janeiro de 1942, numa vila em Wannsee, a oeste de Berlim, então uma casa de hóspedes da polícia e das milícias nazis SS.

Quinze homens do regime nazista se reuniram por uma hora e meia para organizar e aperfeiçoar a deportação e o assassinato em massa dos judeus europeus.

Quem visitar hoje o memorial da "Casa da Conferência de Wannsee" e vir o fac-símile da única ata sobrevivente destes 90 minutos não lerá em lado nenhum as palavras "assassinato" ou "matar". Fala-se apenas de "solução final" – todos os envolvidos sabiam o que isso significava. Planeou-se a criação de outros campos de extermínio.

Campo de concentração Auschwitz Birkenau
Prisioneiros a chegar ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau em 1944Foto: picture-alliance/dpa/Mary Evans Picture Library

Então, a partir de março de 1942, comboios de deportação de várias partes da Europa - como da França, Bélgica, Países Baixos, Itália, Hungria, Grécia e dos Balcãs, incluindo Croácia, Bulgária e Macedónia e outros países - começaram a chegar a Auschwitz e a muitos outros campos de extermínio construídos pelos nazis na Alemanha e noutros países ocupados.

Viagem de comboio para a morte

O campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau tinha o seu próprio ramal ferroviário. Depois de deixarem os comboios, os prisioneiros eram conduzidos para a chamada rampa que, para muitos, ia dar diretamente às câmaras de gás - enquanto outros eram explorados como mão de obra.

Em várias cidades alemãs, existem memoriais dedicados à deportação para a morte, por exemplo em Colónia, Estugarda, Hamburgo e Wiesbaden. O memorial "Plataforma 17", na estação de comboios de Grunewald, em Berlim, é um dos mais conhecidos. E frequentemente visitado por políticos e outras delegações oficiais de Israel. Só desta estação partiram cerca de 35 comboios que transportaram 17.000 judeus para Auschwitz-Birkenau.

Óculos e cabelos humanos

No dia 27 de janeiro de 1945 – há precisamente 80 anos - os soldados do exército vermelho chegaram a Auschwitz, confrontando-se com o horror, um cenário que muitos historiadores classificam de maior atrocidade na história da humanidade.

75 anos: As memórias trágicas de Auschwitz

Christoph Heubner, que acompanhou muitos sobreviventes durante muitos anos, na qualidade de vice-presidente do Comité de Auschwitz, resume os seus testemunhos: "Foi um momento de completa paralisia. Os libertadores, os jovens soldados soviéticos, estavam diante dos portões de Auschwitz, e não acreditavam no que viam. Já tinham visto muita coisa. Mas não o que ali estava".

"Crueldade quase inimaginável"

Quem esteve preso em Auschwitz guardou o número que os nazis lhe tatuaram no braço. E a crueldade quase inimaginável desse lugar ficou-lhes muitas vezes na memória. "Os crimes mais inimagináveis contra pessoas inocentes tornaram-se lentamente do conhecimento público. A dimensão da catástrofe era incompreensível", disse ao Parlamento Federal em 201, Lasker-Wallfisch, uma das sobreviventes do Holocausto.

"Foi o local de um crime estatal organizado, e o crime consistiu em criar um aparato industrial para matar pessoas específicas – judeus, sinti, roma e outros", diz Heubner.

"Casa da Conferência de Wannsee" é hoje um memorial
A "Casa da Conferência de Wannsee" é hoje um memorialFoto: Christoph Strack/DW

Foram precisas décadas para que se iniciasse na Alemanha uma reavaliação mais alargada das atrocidades de Auschwitz. Agora, as últimas testemunhas ainda estão vivas.

Quem visita hoje o memorial e passa pelo museu em vários barracões é tomado pelo horror, depara-se com pilhas de cabelos humanos, óculos, grandes vitrinas com próteses ou os últimos pertences das vítimas.

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto"

Segundo as Nações Unidas, o "Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto” é de extrema importância. A humanidade deve estudar, recordar e aprender a lição, para que monstruosidades como o holocausto não voltem a acontecer.

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o antissemitismo é um fenómeno crescente nas ruas e nas redes sociais, frisando que os judeus enfrentam cada vez mais intimidações, ameaças e violência.

Para o Alto-Comissário, o genocídio dos judeus pelo regime nazi é um "momento aterrador" ao ódio e que significa o derradeiro aviso contra os perigos da política de identidade.