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Ativistas em Lisboa apresentam queixa-crime contra Sissoco

9 de julho de 2025

Seguranças do Presidente da Guiné-Bissau agrediram brutalmente, em Lisboa, o músico Mário Biagué, que integrava um grupo de ativistas que pretendiam entregar a Sissoco lista com inquietações de guineenses na diáspora.

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Mário Biagué, músico e ativista membro do Movimento Manto Sagrado (MMS)
"Saí com algumas lesões, tenho o tímpano do lado esquerdo danificado", contou à DW Mário BiaguéFoto: João Carlos/DW

Um grupo de ativistas teria preparado uma lista de descontentamento contra os "desmandos" do Presidente guineense para lhe entregar no hotel onde estava hospedado, emLisboa, na passada quinta-feira (03.07), sem pretensão de provocar qualquer desacato, conta à DW Mário Biagué, membro do Movimento Manto Sagrado (MMS).

"Assim que nós chegámos à frente do hotel, automaticamente saíram todas escoltas para a rua. Começaram a dizer para sairmos dali e o que viemos cá fazer?", relata.

Depois de uma acesa e persistente troca de palavras, continua Mário Biagué, "surgem as agressões verbais e físicas, fui espancado gravemente durante uns bons minutos, até a polícia aparecer. Graças a Deus a ambulância chegou rápido. Estive no hospital até às 4 horas da manhã. Só saí do hospital depois de estar fora de perigo."

"Saí com algumas lesões, tenho o tímpano do lado esquerdo danificado, tenho os orgãos [genitais] amassados, digamos; tenho marcas de espancamento em todo o corpo, feridas no rosto, tenho umas costuras. Tentaram arrancar-me o olho", contou ainda à DW.

No dia anterior ao ocorrido, segundo Mário Biagué, já tinha acontecido com ele um outro incidente com os seguranças de Umaro Sissoco Embaló, depois de atravessar a ponte 25 de abril a caminho da margem sul do Tejo, onde a primeira-dama da Guiné-Bissau tem uma residência.

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Sissoco fala em "provocações de marginais"

Em declarações aos jornalistas, Umaro Sissoco Embaló disse dias depois, em Cabo Verde, que o "incidente" teve origem em "provocações de marginais guiados por políticos adversários".

Mário Biagué explica à DW qual seria a real intenção do grupo: "Na quinta-feira, nós aparecemos à porta do hotel com mais convidados ativistas, não só do MMS. Tínhamos a nossa lista de preocupações. Outros grupos de manifestantes também tinham as suas listas e juntamos para entregar ao senhor Embaló. Sabendo que ele estava em Lisboa, era uma oportunidade para falar com ele pessoalmente ou de entregar uma carta com as nossas preocupações, porque várias vezes tentámos mandar uma carta com as preocupações do povo da Guiné-Bissau sem sucesso."

Segundo o ativista e músico conhecido por Marios-J, as preocupações têm a ver com atrocidades alegadamente cometidas pelo regime de Sissoco, nomeadamente raptos, assassinatos, insegurança, falta de perspetivas para os jovens e crianças, entre outras.

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Queixas registadas na polícia

Várias queixas foram registadas na polícia a propósito destes episódios, admitindo-se que os visados apresentem uma queixa-crime contra os homens de Sissoco Embaló. Uma das ações foi interposta pelo ativista guineense Yussef, na qualidade de testemunha, que também apareceu no local onde ocorreu o incidente.

"É factual que estivemos perante uma situação de excesso de legítima defesa, na medida em que vemos o número de pessoas que agrediram o Marios-J, vimos a força que eles empregaram no sentido de imobilizar o Marios-J e já numa situação de clara fragilidade física e psicológica continuamos a ver aqueles elementos ligados à segurança do senhor Umaro Sissoco Embaló a continuar essa agressão física", explica.

Para o ativista, "é um transladar da violência política da Guiné-Bissau para Portugal", algo que também já tinha acontecido em França, o que justifica esta denúncia jurídica. Yussef retoma uma ideia de Amílcar Cabral, pai do nacionalismo guineense e cabo-verdiano, e diz que "é preciso perder o medo dos cipaios".

"Neste momento, temos na Guiné-Bissau os novos cipaios, que são os seguranças do senhor Umaro Sissoco Embaló", precisa o ativista guineense.

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Para o jornalista Hélmer Araújo, a atitude dos seguranças de Umaro Sissoco Embalónão surpreende os guineenses, nomeadamente em Portugal, sem que se tenha notado nenhuma reação por parte das autoridades.

"Os seguranças do Presidente da República já estiveram envolvidos com ativistas em França, com ativistas em Portugal no dia 25 de abril, embora não tenha dado nenhuma cena de violência. Mas este ato contra o Movimento Manto Sagrado não deixa [de ser] o apanágio habitual deste regime de Umaro Sissoco Embaló", destaca.

O analista guineense, que lamenta o ocorrido, considera que esta é mais uma demonstração da forma como o regime lida com os opositores dentro e fora do país, com recurso à violência constante. "Ele, uma vez, até disse ter o alcance [dos instrumentos] do Estado para chegar a qualquer pessoa. E, infelizmente, o povo guineense está capturado dentro de um regime opressor", lamenta.#

Artigo atualizado às 20:03 (CET) de 9 de julho de 2025

João Carlos Correspondente da DW África em Portugal