Assessor de Mondlane denuncia tentativa de assassinato
24 de fevereiro de 2025Em entrevista à DW África, Dinis Tivane, braço direito do ex-candidato presidencial, Venâncio Mondlane, afirma não ter dúvidas que o ataque tem motivações políticas e acusa a FRELIMO de ter mão no gesto violento. Tivane, não nega que se sente intimidado, mas garante que continuará em sua casa.
Venâncio Mondlane partilhou um vídeo, na sua conta no facebook, que está a ter muita repersussão, e que mostra os vestígios e sinais do ataque, nomeadamente os danos causados por balas, na residência de Dinis Tivane.
Mondlane comenta o vídeo com as seguintes palavras, entre outras: " O meu assessor de Relações Públicas foi alvo de um brutal ataque à bala. Foram 24 tiros atingindo portões e a área interna da garagem, num claro ato de indimidação política." A DW falou com a vítima do ataque, Dinis Tivane.
DW África: Em que circunstâncias foi atacada a sua residência?
Dinis Tivane (DT): Na altura do ataque eu estava fora de Maputo, estava fora de casa. A família também estava deslocada. Eu deveria ter regressado naquele mesmo dia. Eu não sei se eles tiveram alguma informação que eu voltava naquele dia da minha viagem, ou se foi coincidência apenas. Eu fui informado, quando cheguei, logo pela manhã, que o incidente tinha ocorrido entre as duas e três horas da madrugada. Os vizinhos tentaram contactar-me, mas eu tinha pouca informação. Ao chegar é que me apercebi do terror que tinha acontecido, por causa da quantidade de balas que estavam espalhadas pelo meu portão, a quantidade de tiros que entraram pela garagem dentro, alguns até entraram para uma zona depois da garagem, onde fica o meu escritório. Foi aí que verifiquei, com provas, que, de facto, tinha sido atacado.
DW África: A quem atribuiria a autoria do ataque? Desconfia de alguém, de algum grupo?
DT: Isto tem claramente conotação política, não há outra hipótese. Nós aqui em Moçambique temos uma maneira, um domínio do crime, que é muito específico pela forma como se organiza, pela forma como está infraestruturado e pela estranha forma como sempre ocorre. Então, por via disso, é fácil perceber que há uma relação entre o regime da FRELIMO e este ataque. Um dos vizinhos contou-me que viu a viatura na qual os autores se faziam transportar: era uma carrinha Toyota Hilux, de dupla cabina, que estava parada do outro lado da estrada. Eles depois manobraram o carro, pararam à frente do meu portão e começaram a disparar. Tenho também um segurança aqui, da mesma empresa em que trabalhava um homem que foi baleado há três semanas, que conta que ele também se apercebeu da mesma carrinha. Ele primeiro disfarçou e depois tentou esconder-se. Quando ele se tentou esconder, um dos homens do carro, que estava encapuçado, desceu do carro, colocou-o no chão e apontou-lhe uma arma. Foi esse o mesmo homem que depois começou a disparar contra a minha casa.
DW África: Então não é o primeiro ataque contra a sua pessoa?
DT: Não, não é o primeiro, nem é o segundo. Já houve outros. Já houve ameaças. Já houve a situação de eu estar a monobrar para entrar no meu quintal e os carros me bloquearem. Nesse caso apercebi-me que era um alerta, por assim dizer...
DW África: Entende estes ataques como uma ameaça ou vê mesmo como atos falhados de o eliminar?
DT: São ameaças. O nível de organização que esta gente tem, a capacidade de execução que nós temos visto, a capacidade que temos visto para fazer raptos, etc., é muito grande. Eu quando vejo a situação de mortes mal contadas, como a morte do Director-Geral do SISE, o Serviço informação segurança do Estado, no ano passado, fico com a certeza de que com aqueles indivíduos não há nenhuma falha. É claro que se trata de uma demonstração de força, uma forma de dissuasão, é uma forma de dizer 'olha, você vai seguir o mesmo caminho que os outros seguiram'. Veja que nós eliminámos o Paulo Guambe, eliminámos outros... Eles estão a mostrar que têm acesso à minha pessoa, que conhecem a minha casa e que podem fazer de mim aquilo que quiserem.
DW África: Sente-se intimidado ou amedrontado?
DT: Sinto-me intimidado. Sou homem. Tenho que perceber a mensagem. Por mais que a gente queira ser valente - e somos - tudo tem um limite. Os nossos opositiores têm poderes ilimitados, são figuras sem escrúpulos, sem nenhum pudor, sem nenhuma consciência moral. Então, nós sabemos perfeitamente o que é que pode acontecer. Então nós sentimo-nos mal. Eu posso-lhe garantir que de ontem para hoje não dormi. Estou em casa como se eu fosse, paticamente, carne para canhão. Então é esta a vida que eu vou ter. Mas isso não siginifica que vamos desistir do que estamos a fazer.