Assessor de Mondlane rompe com PODEMOS e acusa-o de traição
4 de fevereiro de 2025O assessor do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lidera a contestação aos resultados eleitorais em Moçambique, anunciou hoje o fim da relação com o PODEMOS, acusando aquela formação política de "vender a luta do povo".
"Como, para nós, nem tudo na vida é dinheiro e posições, em respeito à dor de milhares de moçambicanos que pagaram com seu sangue, membros mutilados, sequestros, execuções sumárias e extrajudiciais ou ainda privação de liberdade, renunciamos [a] todos os direitos e prerrogativas a favor do partido Podemos", lê-se num documento do autointitulado "Gabinete do Presidente Eleito pelo Povo", assinado por Dinis Tivane, assessor de Mondlane.
O Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), partido registado em maio de 2019 e composto por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, a 21 de agosto de 2024, do apoio à candidatura de Mondlane nas presidenciais.ven
O "acordo político" aconteceu pouco tempo depois de Mondlane ter a sua coligação (CAD) rejeitada pelo Conselho Constitucional por "irregularidades".
Nas eleições de 09 de outubro, o PODEMOS tornou-se o maior partido da oposição em Moçambique, com 43 assentos no atual parlamento, tirando um estatuto que era da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
"Vender a luta do povo"
Na nota assinada pelo assessor de Mondlane, o PODEMOS volta a ser acusado de ter "vendido a luta do povo", sobretudo devido à "tomada de posse no parlamento madrugadora [prematura]", um processo que foi boicotado, no dia da investidura, pelos outros partidos da oposição que também rejeitavam os resultados eleitorais, a RENAMO e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), mas que tomaram posse mais tarde.
"Como se viu e foi testemunhado por todos, o partido PODEMOS, contra a vontade do povo e de forma madrugadora, correu para tomar posse na Assembleia da República. Urge clarificar que a nossa luta política é, fundamentalmente, pela salvação de Moçambique, não estando em causa o alcance obsessivo de bens materiais ou qualquer vantagem financeira com base no martírio do povo", lê-se no documento.
No documento, o PODEMOS é acusado de adulterar o acordo político que existia entre as duas partes e critica-se o facto de o partido integrar a mesa de diálogo para o fim da crise pós-eleitoral que está a ser promovida pelo Presidente da República, Daniel Chapo, sem apresentar ao público "uma agenda concreta ou propor termos de referência".
"O partido PODEMOS embalou-se para um 'suposto' diálogo onde até aqui se desconhece a quem vai beneficiar, ou será, como sempre, as elites políticas a distribuírem, entre si, mordomias, benesses e privilégios infindáveis. Dito de forma simples: está em marcha a velha tática de acomodação sob a máscara de 'inclusão'", acrescenta.
Acordo rompido
Contatado pela Lusa, o porta-voz do PODEMOS, Duclésio Chico, disse que o partido não reconhece o documento distribuído hoje, justificando que o acordo foi assinado especificamente com Venâncio Mondlane e não com Dinis Tivane.
"O acordo não tem mais validade neste momento porque Venâncio Mondlane violou a cláusula da confidencialidade, mas nós ainda procuramos amparar este acordo. Entretanto, ele voltou a quebrar o mesmo, insultando e desrespeitando o nosso presidente", declarou.
O PODEMOS é fruto de uma dissidência de antigos membros da FRELIMO, que pediam mais "inclusão económica", tendo abandonado o partido no poder, na altura, alegando "desencanto" e diferentes ambições.
No novo parlamento, dos 250 assentos, o PODEMOS tem 43, a RENAMO 28 e o MDM oito, tendo a Frelimo, no poder desde a independência, a maioria parlamentar, com 171 deputados.
Moçambique vive desde 21 de outubro um clima de forte agitação social, protestos, manifestações e paralisações, convocadas por Mondlane, com confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes, que provocaram pelo menos 315 mortos, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 pessoas baleadas, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.