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PolíticaArábia Saudita

Arábia Saudita assume-se como mediadora de crises mundiais

Jennifer Holleis | Majda Bouazza
11 de março de 2025

Primeiro o Sudão, depois Gaza, agora a Ucrânia: a Arábia Saudita é palco de conversações sobre mais uma crise que tem atraído atenção mundial. País está a reformular a sua imagem como mediador mundial, dizem analistas.

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Bandeiras da Arábia Saudita e da Ucrânia na rotunda da estrada King Abdulaziz, na cidade portuária saudita de Jeddah
A Arábia Saudita é o novo centro de conversações sobre os maiores conflitos e crisesFoto: Amer Hilabi/AFP

Após a discussão entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump na Casa Branca, os EUA e a Ucrânia voltam esta terça-feira à mesa de negociações para tentar travar a invasão russa e alcançar a paz. Além disso, está também em causa um acordo de segurança que incluiria o acesso dos EUAaos valiosos depósitos minerais e metálicos da Ucrânia.

As negociações EUA-Ucrânia acontecem na Arábia Saudita. O facto de os dois países terem concordado em reunir-se na Arábia Saudita - e não, por exemplo, na Europa - realça a posição-chave emergente do país, sublinha o investigador Sebastian Sons.

"A Arábia Saudita estabeleceu-se nos últimos dois ou três anos como uma plataforma, um local de diálogo e quer claramente utilizar isso como um instrumento estratégico para se posicionar como um ator independente e bem relacionado numa ordem mundial multipolar", diz Sons em entrevista à DW.

Arábia Saudita posiciona-se como mediador neutro 

O investigador destaca que a estratégia de política externa da Arábia Saudita, passa por "falar com todos", seja com os EUA ou a Europa, posicionando-se, assim, como um mediador neutro.

Em 2024, a Arábia Saudita ajudou a facilitar uma troca histórica de prisioneiros entre a Rússia e os EUA.  No mês passado, o país acolheu também conversações entre as duas potências e deverá ser o anfitrião de um encontro cara a cara entre Trump e o Presidente russo, Vladimir Putin.

A "lista de desejos" de Zelensky

Riade tornou-se igualmente um ponto de encontro para as cimeiras da Liga Árabe para discutir o conflito no Sudão e o futuro dos palestinianos em Gaza.

"A Arábia Saudita está interessada em ser mediadora porque quer demonstrar que é agora uma potência média muito importante", considera Neil Quilliam, especialista da Chatham House, com sede em Londres.

"Deixou de ser considerada um Estado pária pela administração Biden para ser agora uma espécie de ator essencial no Médio Oriente, certamente no que diz respeito aos palestinianos, à Síria e ao Líbano", disse Quilliam à DW.

Incentivos financeiros

A posição marca uma viragem em relação ao isolamento internacional da Arábia Saudita e poderá também ajudar a desviar as atenções do fraco historial do país em matéria de direitos humanos.

Em vez de defender as políticas internas, a nova posição internacional do país permite ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, exercer influência noutros conflitos, salientam observadores.

Também há incentivos financeiros em jogo. Donald Trump já disse que a Arábia Saudita deverá ser o destino da primeira visita ao exterior no seu segundo mandato, tal como foi no primeiro. Segundo o chefe de Estado, Riade está a planear investir pelo menos 600 mil milhões de dólares, incluindo a aquisição de equipamento militar dos EUA.

"Também querem elevar a relação com Trump a um nível em que possam fazer bons negócios. A Arábia Saudita depende disso para garantir o seu próprio modelo de negócio e, para isso, precisa dos EUA", conclui Sons.

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